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Lares chefiados por mulheres e pessoas negras são os que mais sofrem com insegurança alimentar

A professora e pesquisadora de relações raciais da Universidade de Brasília (UnB), Kelly Quirino, afirma, em entrevista ao G1 nesta semana, que historicamente as mulheres negras são as mais fragilizadas e ficam na base da pirâmide social em razão do racismo, do patriarcado e do capitalismo e com a pandemia a situação só se agravou. “Muitos postos de emprego acabaram. A gente já estava em um contexto de desemprego altíssimo e com a pandemia essa questão piorou muito e fez com que as pessoas negras acabassem se contaminando mais porque tiveram que sair de casa para os trabalhos informais como camelô e de doméstica”, explica.

O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II Vigisan), lançado no primeiro semestre de 2022, trouxe dados ainda mais alarmantes sobre a situação da fome no país: a cada 10 lares chefiados por mulheres ou por pessoas negras de ambos os gêneros, 6 têm algum nível de insegurança alimentar, de acordo com a pesquisa. O levantamento ouviu 35.022 indivíduos em 12.745 domicílios, nos 26 estados e no DF, entre novembro de 2021 e abril de 2022 e foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN).

As desiguais taxas de emprego (e subempregos) também têm afetado o número de famílias em situação de insegurança alimentar. Segundo dados da PNAD Contínua do 2º trimestre de 2021, do IBGE e analisados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), as taxas de desemprego é maior entre mulheres negras e, em rendimentos médios no mesmo período, as mulheres negras recebiam 46,6% da remuneração de homens não negros. A fome é o resultado da somatória destes fatores.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil é o único país que saiu do mapa da fome e depois retornou sem ter passado por uma guerra. Esse crescimento aconteceu devido ao desmantelamento das políticas públicas implementadas pelos governos progressistas anteriores e descontinuadas pelo governo genocida de Bolsonaro. Para Tereza Campello, economista e titular da cátedra Josué de Castro da USP, a volta do país ao mapa da fome se deveu a uma escolha política e não foi causada pela pandemia. “Em 2018, dois anos antes da pandemia chegar, o Brasil já tinha invertido os principais indicadores de segurança alimentar”, diz.

A professora, Tereza Campello, ainda completou, em entrevista ao portal de notícias G1, quais seriam as opções para que o Brasil tire essas pessoas dessa situação tão degradante: “é preciso uma rede de políticas integradas de proteção social, que incluam a oferta de alimentos saudáveis, a ampliação da renda da população, a geração de empregos e a retomada de medidas de inclusão que foram abandonadas nos últimos anos.”