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Inteligência artificial: tecnologias avançam, mas desigualdades persistem

Os avanços tecnológicos, envolvendo o uso de sistemas de inteligência artificial, têm ocupado as manchetes, ultimamente. Ferramentas online capazes de interagir com os usuários, de gerar imagens e até simular vozes – inclusive, de artistas já falecidos, para citar alguns exemplos, até bem pouco tempo atrás, habitavam apenas histórias de ficção científica. A despeito de uma empolgação inicial, contudo, as novas tecnologias levantam dúvidas sobre como a sociedade será impactada por estes novos sistemas, além de escancarar realidades com quais já convivemos há muito tempo.

Um dos pontos a serem discutidos diz respeito ao futuro do trabalho.  O problema foi admitido até mesmo por Sam Altman, cofundador da OpenAI, empresa responsável pelo ChatGPT, um aplicativo que “imita” a linguagem humana, para a realização de tarefas por escrito. Para o programador, as novas tecnologias tendem a acabar com empregos que, hoje, são realizados por pessoas. O comentário foi feito, na semana passada, durante a participação do empresário em evento da Fundação Lemann sobre “O Futuro da IA e o Brasil”, no Rio de Janeiro.

E a preocupação tem fundamento. Até 2027, por volta de 23% dos atuais postos de trabalho devem passar por modificações, o que inclui a criação de novas funções, além da transformação e do desaparecimento de outras. A estimativa consta em relatório do Fórum Econômico Mundial, elaborado em parceria com a Fundação Dom Cabral. Um cenário preocupante, ainda mais em um país em que o drama do desemprego afeta milhões de pessoas.

Altman também alertou para a necessidade de regulamentação dessas ferramentas digitais, tendo em vista as maneiras nocivas nas quais a inteligência artificial pode ser usada. Aliás, para as pessoas que vivem no Brasil, não é difícil imaginar os problemas que podem ser causados. Com as tecnologias atuais, já tivemos de lidar com uma enxurrada de informações falsas, que foram usadas nos ataques às instituições democráticas até a propagação do negacionismo sobre a pandemia da Covid-19.

Tecnologia e Educação

Embora impressionantes, os avanços tecnológicos continuam sendo uma realidade distante para boa parte da população do Brasil. Em 2022, uma a cada três pessoas das classes D e E não acessaram a internet no Brasil. Os dados foram revelados pela a pesquisa TIC Domicílios, publicada na semana passada, pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). Nesse mesmo período, o número de pessoas que não acessou a internet chegou a 36 milhões, sendo o equivalente a 19% da população do Brasil com 10 anos ou mais.

O cenário se torna ainda pior em relação à Educação. Cerca de 44% dos jovens e adolescentes entre 9 e 17 anos, tem acesso à internet na escola. Os números foram divulgados no início do mês de maio, em pesquisa publicada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br). E mesmo entre aqueles que possuem acesso, as condições não são das melhores: a qualidade da conexão é considerada ruim por 39% das crianças e adolescentes das classes D e E.

Ainda de acordo com o levantamento, entre os mais pobres, 22% ficam sucessivamente sem acesso, por causa da falta de créditos no celular, e outros 25% passam, eventualmente, por essa situação. Por tudo isso, o caso da Educação denuncia as desigualdades sociais que persistem no país em relação ao acesso a internet. Dessa maneira, estudantes de baixa renda levam grandes desvantagem em relação à formação digital, o que impacta provavelmente, as condições de entrada na universidade e no mercado de trabalho.

Não é de hoje que os desenvolvimentos técnicos e científicos influenciam o cotidiano da sociedade. Assim como em outras situações, o que está em disputa são os interesses a quem estas mudanças servem, assim como a maneira como esses avanços seriam percebidos pelas diferentes classes socais.  Contudo, em meio à fragilização das relações de trabalho e do sucateamento dos serviços prestados à população, essa situação é ainda mais delicada.