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Insegurança alimentar atinge dois em cada três lares chefiados por negros no Brasil

A herança nefasta dos governos Temer e Bolsonaro para o Brasil inclui o retorno do país ao mapa da fome, de onde havíamos saído desde 2014. Um feito do bolsonarismo, tendo em vista que, como apontou a Organização das Nações Unidas (ONU), foi a primeira vez que um país sofreu este retrocesso sem que tivesse passado por uma guerra. Além disso, a situação se torna ainda pior para a parcela de pessoas pardas e negras da população, agravada pelo racismo estrutural que permeia nossa sociedade.

Para se ter uma noção do problema, entre lares chefiados por pessoas autodeclaradas pardas e pretas, mais de 60% passam por algum tipo de insegurança alimentar. Ou seja, cerca de dois em cada três domicílios. Já em famílias chefiadas por pessoas autodeclaradas brancas, o percentual cai para 10,6% – por volta de 1 a cada 10 domicílios. Os números constam no Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN), pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), publicada na última segunda-feira (26/06).

O levantamento também demonstrou que, além do aspecto étnico-racial, o drama da insegurança alimentar também é agravado pela questão de gênero. Entre lares chefiados por mulheres negras, quase 70% dos domicílios passam por esta situação. Nesse sentido, cabe pontuar que mulheres tem um rendimento médio mensal cerca de 21% abaixo do registrado entre homens, de acordo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Ademais, pessoas brancas tem, em média, um rendimento mensal médio 60% maior do que o de pessoas pardas ou pretas.

O cenário evidencia as consequências das medidas, adotadas nos últimos anos, para desmantelar as políticas públicas implementadas por governos progressistas. E como pudemos observar nos números acima, o enfrentamento às vulnerabilidades sociais deve levar em consideração desigualdades raciais e de gênero que persistem no Brasil.

Ainda hoje, o Brasil precisa lidar com os estragos causados por este período de neoliberalismo no país. Por isso, o processo de reconstrução democrática do país precisa contemplar os aspectos materiais que afetam a população. Garantir condições dignas de sobrevivência para a população, começando pela alimentação, deve ser uma luta prioritária para toda a população.