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‘Ensino remoto é como um suplemento, nunca substituirá o presencial’, diz Sandra Goulart

Webinar ‘Acolhimento e escuta’ para os tempos atuais reabriu semestre letivo (Foto: Raphaella Dias/UFMG)

Fonte: UFMG

Em evento on-line de retomada do semestre, Teresa Kurimoto e Christian Dunker defenderam a importância do acolhimento e da escuta

“A oferta do ensino remoto emergencial é como um suplemento, que nunca será como o ensino presencial, mas a forma possível, encontrada pela UFMG, neste momento de excepcionalidade, para fortalecer o vínculo com seus estudantes, retomar as atividades de forma gradual e combater a exclusão e a desigualdade digital”, afirmou a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, na recepção à comunidade acadêmica, nesta segunda-feira, dia 3, durante webinar transmitido pelo canal do YouTube da Coordenadoria de Assuntos Comunitários, com o tema Acolhimento e escuta para os tempos atuais.

Segundo a reitora, o ensino remoto emergencial atende à decisão dos conselhos superiores da Universidade. “São tempos de inseguranças, de muitas dúvidas, que, por isso, demandam acolhimento e escuta, mas também muita empatia, comprometimento e compartilhamento das novas experiências. Tudo será um aprendizado, não resta dúvida. O importante é que tenhamos flexibilidade e responsabilidade uns com os outros, como pessoas e como nação, como instituição de ensino comprometida com o atendimento das demandas da sociedade e da própria comunidade acadêmica”, propôs.

A professora Teresa Kurimoto, da Escola de Enfermagem e do Comitê Permanente de Saúde Mental da UFMG, cuja fala foi centrada no mote O novo sempre vem: reflexões para os tempos atuais, lembrou que uma universidade não é lugar restrito à entrega de demandas e de busca de soluções, mas um espaço de construção contínua e conjunta do protagonismo dos sujeitos envolvidos. “O termo acolhimento, que pegamos emprestado da área da saúde mental, traz não apenas as dimensões estética e da convivência em favor da vida, mas também a dimensão política, que implica compromisso de todos com todos na construção desse espaço”, observa.

Em sua exposição, Kurimoto relatou que, há cerca de quatro anos, estudantes expuseram, durante evento de saúde mental, seu sofrimento individual no percurso acadêmico. Com base nessa escuta, os integrantes da rede de saúde mental concluíram que algo não ia bem nas relações construídas no ambiente acadêmico. “Desde então, estamos construindo, continuamente, essa proposta de acolhimento da diversidade, das fragilidades, dos limites e das singularidades. Isso não significa que temos como propor uma política que vá banir o sofrimento, mas é uma proposta para nos olharmos mais e continuamente, para aprendermos novos modos de ensinar, de aprender e relacionar”, acrescenta.

 Recusa ao sofrimento do outro

Para o psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da USP Christian Dunker, que ministrou a palestra Da crise da escuta à escuta na crise: reflexões e desafios no campo da educação, antes da pandemia a sociedade vivenciou crises relacionadas à recusa do sofrimento do outro no trabalho, nos meios digitais e nos modos de desejar. “Foi um verdadeiro bloqueio da educação para a escuta”, resume.

Segundo Dunker, isso preconizou outro processo, já anunciado pela Organização Mundial da Saúde antes da pandemia de covid-19: os diagnósticos de doenças mentais continuariam desconsiderando a leitura que o paciente faz sobre si mesmo e a influência do que os outros falam dele. “Os diagnósticos visam captar o transtorno mental como transtorno cerebral, apesar de os bons pesquisadores da área discordarem. É nessa situação que nos encontrávamos, nesse ambiente competitivo, em que a cobrança por mais e mais produção de escrita, memorandos e relatos escritos contribuíram para reforçar a recusa da palavra como forma de intermediação dos conflitos”, analisa.

O professor reconhece que é difícil se colocar no lugar da escuta, mas diz que é possível sairmos de nós mesmos para descobrir a perspectiva do outro, numa postura de partilha, de afeto, mesmo quando o outro não sabe dizer por que não está bem. “Essa postura de integração, de falar a língua do outro, protege a saúde mental, assim como o sentimento de solidariedade”, defende.

O psicanalista acrescentou que a escuta do sofrimento precisa ser hospitaleira, sem recusa de todas as linhas clínicas e formas possíveis de acolhimento. Ele defendeu a necessidade de que essa escuta ocorra antes que o sofrimento se transforme em sintoma.

O evento foi transmitido pelo canal do YouTube da Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC), onde está disponível. Até o momento, foram registradas cerca de 2,7 mil visualizações.

(Teresa Sanches)