Em assembleia histórica, Unicamp conclama sociedade em defesa da educação pública
Fonte: Brasil de Fato.
Esta é a primeira vez que a instituição realiza ato com esse caráter desde o período da ditadura militar brasileira
A comunidade acadêmica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizou, nesta terça-feira (15), a primeira Assembleia Universitária Extraordinária da história da instituição.
Alunos, professores e demais trabalhadores se posicionaram em defesa da educação pública, da autonomia universitária e contra os cortes de verba promovidos pelo governo federal nas universidades e nas agências de incentivo e fomento à pesquisa.
Uma moção na qual a sociedade é convocada a defender as universidades públicas foi aprovada por unanimidade ao coro de “ninguém solta a mão de ninguém”, frase que ganhou destaque em mobilizações contrárias a então candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha eleitoral de 2018.
Esta é a primeira vez em mais de 50 anos que o Conselho Universitário da Unicamp (Consu) convoca uma assembleia com esse caráter. O último ato desta proporção aconteceu em 1981, durante a ditadura militar no país. O protesto, à época, foi em repúdio à invasão do campus universitário promovida pelo então governo de Paulo Maluf, no estado São Paulo.
‘A nossa luta unificou, é estudante, funcionário e professor’
O ato contou com a participação dos três setores universitários: docentes, estudantes e funcionários. Também estiveram presentes organizações da sociedade civil, em apoio à comunidade da Unicamp.
O reitor da instituição, o físico Marcelo Knobel, participou da abertura da assembleia e ressaltou que a mobilização reunia a comunidade em defesa de uma causa comum. “Em que pesem as diferenças que certamente existem entre nós, estamos todos aqui, no coração da Unicamp, para defender um ideal comum: a universidade pública, a educação, a ciência e a tecnologia”, declarou.
A realização da assembleia foi aprovada no dia 24 de setembro pelo Conselho Universitário da Unicamp, órgão máximo de deliberação da universidade. Por parte dos estudantes, o sentimento é de que o ato representa o pontapé inicial para unificar a luta contra cortes federais e estaduais na educação.
“É um primeiro sinal de que estamos mobilizados para lidar tanto com a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] das Universidades quanto com os cortes nas agências de fomento”, defendeu Matheus Albino, representante da Associação de Pós-Graduandos e Graduandas da instituição.
‘A ciência não se cala a ninguém’
Professores e estudantes defenderam os pilares de autonomia da universidade e a manutenção de condições mínimas para a realização de pesquisa, área na qual a Unicamp ocupa lugar de destaque no estado e no país.
“Quem entrar na Unicamp vai encontrar pessoas que dão suas vidas por condições melhores para a sociedade que a financia. Não devemos ter medo de defender condições justas em uma universidade laica e socialmente referenciada. O financiamento público e a autonomia universitária são pilares da liberdade de pensamento. A ciência não deve se calar a ninguém”, afirmou o pós-graduando durante sua fala na assembleia.
A Unicamp
Em 2019, a Unicamp foi considerada, ao lado da Universidade de São Paulo (USP), uma das três melhores instituições de ensino superior da América Latina pelo ranking internacional Times Higher Education.
Segundo dados da universidade, atualmente, agências como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) financiam cerca de R$ 12 milhões mensais para financiamento de bolsas a cinco mil estudantes de pós-graduação, além dos estudantes de graduação.
Cerca de 35 mil estudantes estão matriculados na instituição, que forma aproximadamente 800 doutores todos os anos.
A Unicamp também é polo internacional de desenvolvimento tecnológico. Em 2017, a universidade alcançou o primeiro lugar no número de patentes depositadas em todo o país.
Cortes de bolsas
O CNPq registrou este ano um déficit orçamentário de R$ 330 milhões, e a Capes de R$ 800 milhões. Além dos cortes em bolsas de pesquisa e verbas públicas para instituições de ensino, o Ministério da Educação também oficializou o lançamento do programa “Future-se”.
A medida busca ampliar o papel das verbas privadas no orçamento das universidades federais, e é alvo de repúdio e de mobilizações estudantis pelo país. Até o momento, nenhuma instituição federal declarou adesão ao projeto.