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Desde 2015 setor do conhecimento no Brasil perdeu cerca de R$ 38 bilhões

 

Sucessivas crises nas universidades federais, pesquisas prejudicadas pela falta de recursos, saída de cientistas do país e instabilidade na concessão de bolsas. O cenário é fruto de um contínuo contingenciamento de verbas nas áreas relacionadas à produção científica. Desde 2015 foram cortados R$38 bilhões do “setor do conhecimento”, considerando as perdas acumuladas ano a ano e corrigidas pela inflação. O levantamento foi feito pelo “Observatório do Conhecimento”, grupo lançado hoje e organizado por associações de docentes das universidades do país,  e antecipado pela coluna do Ancelmo Gois. 

O cálculo considera valores empenhados destinados às universidades, institutos e escolas federais; à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); e ao Ministério da Ciência , Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), onde está alocado o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Quando comparado a 2014, o orçamento destinado à produção de conhecimento em 2019 tem quase R$15 bilhões a menos. Isso quer dizer que o valor disponível atualmente representa 52% do orçamento de 2014.

 —  Nos últimos anos temos enfrentado sucessivos cortes, a área do conhecimento está sendo estrangulada. Desde 2014 estamos quase sem investimento em Ciência e Tecnologia, fora as bolsas, estamos praticamente zerados há cinco anos. Se as pesquisas estavam em risco em 2016, hoje elas estão parando — afirma a professora da UFRJ Tatiana Rappoport, uma das idealizadoras do Observatório.

A pesquisadora afirma que pesquisas em áreas estratégicas no Brasil estão sendo prejudicadas pelo desmonte do setor e que a descontinuidade dos recursos pode fazer com que o país gaste o dobro no futuro.

— Há pesquisa sobre o mosquito aedes aegypti, outras sobre controles de pragas, nanotecnologia. O Brasil não consegue fazer uma política de Estado de médio e longo prazo para a área do conhecimento. O país investe, compra equipamento, mas depois não mantém, os pesquisadores acabam indo embora. É como não limpar o bueiro e gastar o dobro para mitigar os efeitos de uma enchente de grandes proporções. Não há investimento na manutenção dos grupos de pesquisa e depois que ficam destruídos controem de novo e gastam dez vezes mais. Estamos sempre recomeçando do zero — criticou.

No início do mês, organizações ligadas à pesquisa científica alertaram para a falta de recursos na área. Segundo eles, caso o governo não forneça mais verbas, o dinheiro para as pesquisas acaba em julho. Somente o MCTIC sofreu um contingenciamento de 42,2% de seus recursos nesse ano.

O presidente Jair Bolsonaro sofreu uma onda de críticas após publicar no Twitter uma foto com a jovem Alia Al Mansoori que ele descreveu como “prodígio da ciência dos Emirados Árabes” e que estuda para ir ao espaço. Na ocasião, estudantes e pesquisadores brasileiros se manifestaram apontando a contradição da foto e o cenário de cortes promovido pelo governo na ciência brasileira.

O quadro se agravou neste ano, mas desde 2017 a situação da ciência brasileira já era preocupante. Um painel inaugurado na UFRJ, batizado de “Tesourômetro”, contabilizava o contingenciamento de recursos na área. Na ocasião, devido à rotina de cortes, o setor perdia cerca de R$500 mil por hora no Brasil.

 

Fonte: O Globo

Foto: Leo Martins / Agência O Globo