As mortes na pandemia têm cor e gênero: negros e famílias chefiadas por mulheres são as maiores vítimas da COVID-19
O Instituto Pólis cruzou dados do Observatório de Remoções da USP com as taxas de mortalidade por Covid-19 em São Paulo entre 2020 e 2021, e com informações do Censo Demográfico do IBGE de 2010 e o resultado encontrado mostrou, mais uma vez, a face segregadora, racista e violenta com que a pandemia atingiu a população brasileira.
A população de negros e as famílias chefiadas por mulheres com renda de até três salários mínimos em São Paulo foram as mais afetadas com ações de despejo na pandemia, e também as que mais morreram pela Covid-19.
Mas essa realidade não começou agora. Segundo os dados do Mapa da Desigualdade, publicados em setembro de 2021, entre a população negra, 47,6% das mortes ocorreram por causa da Covid-19; já entre a população branca foram 28,1%. Em 2022, nas áreas mais afetadas (centro e periferias), os negros representam 47,3% do total de mortos. A taxa está dez pontos percentuais acima da representatividade deste grupo na cidade de São Paulo: 37% da população de São Paulo é negra. O grupo também corresponde a mais da metade (51,8%) dos casos de despejos.
A população negra sempre foi marginalizada pelo Estado e durante a pandemia essa postura não foi diferente. Temos um Estado ineficiente e que diariamente ignora as demandas das comunidades negras brasileiras. É um absurdo que em 2022 ainda tenhamos tantas vítimas da negligência do Governo brasileiro.
A estatística social da doença da Covid-19 no Brasil expõe as imensas desigualdades sociais no país, e com ela registra-se números escandalosos. As classes sociais mais vulneráveis economicamente, são as maiores vítimas da doença. O vírus pode não escolher cor ou classe para atacar, mas sabemos quais pessoas estão mais sujeitas e expostas à contaminação – aquelas inseridas nas classes sociais mais frágeis socioeconomicamente. Para o instituto Pólis, que realizou o estudo, o levantamento mostra “que há camadas de vulnerabilidade socioeconômica nos territórios mais sujeitos às remoções”. A entidade diz ainda que, os despejos representam não só uma ameaça individual à saúde das pessoas, mas também podem potencializar novas cadeias de contágio pela metrópole paulista.