APUBHUFMG+ no IX Simpósio de Microbiologia
Os impactos na saúde mental ou sofrimento psicológico pelo excesso de trabalho para a categoria docente foi o assunto tratado na participação do Sindicato.
Na última quarta-feira, dia 28 de setembro, a psicóloga do trabalho do APUBH, Julie Amaral, e a coordenadora do Núcleo de Acolhimento e Diálogo do APUBH UFMG+ (NADi/APUBH), a professora Solange Godoy, participaram do IX Simpósio de Microbiologia da UFMG para tratar da temática sobre saúde mental na categoria docente. O evento, que aconteceu entre os dias 27 e 29 de setembro, é organizado pelo Programa de Pós-Graduação em Microbiologia e, esse ano, veio com o tema A Microbiologia no Brasil: A ciência de hoje para soluções dos problemas do amanhã.
A primeira a tomar voz na participação foi a professora Solange, da Escola de Enfermagem da UFMG. A professora, que é também coordenadora do NADi, reforçou a importância do tema, falando sobre quão essencial é tratar o tópico continuamente. Ela também relatou sobre como o Sindicato busca ampliar esse debate por meio do Núcleo, sendo um espaço de escuta e construções coletivas e com o propósito de promover o diálogo na categoria docente.
Um ponto destacado pela professora Solange foi o sofrimento presente entre professores e professoras da UFMG em decorrência da pressão organizacional, fato esse que foi agravado pela pandemia do Covid-19. Com o aumento da lógica de “aprender fazendo”, segundo ela, o período de ensino remoto fez com que docentes tivessem que se desdobrar para exercer funções que não lhes foram ensinadas ou que sequer deveriam ser obrigatórias. Com isso, os efeitos dessa cobrança foram sentidos na saúde mental de toda a categoria. Entendendo o cenário em que os docentes foram colocados, o NADi surgiu em 2020 como forma de atender a demanda dos professores em meio ao ensino remoto.
A professora apontou, ainda, que é necessário considerar que o trabalho é fonte de identidade, sentido, prazer e realização dos profissionais, mas que também pode ser motivo de adoecimento, principalmente decorrente do chamado “produtivismo acadêmico”. A lógica quantitativa imposta por ele, impele que a vida pessoal e familiar se tornam reféns da vida universitária, atravessada pela sobrecarga de trabalho, o que faz com que o trabalho saia do campus e invada o espaço individual dos professores.
Após a fala da professora Solange, a psicóloga Julie Amaral falou sobre os impactos do problema de precarização do trabalho na saúde mental dos docentes. Para a psicóloga, a invasão dos espaços pessoais dos docentes e o aumento da carga de trabalho têm efeito direto na convivência entre os docentes, gerando relações de hostilidade e quebra de solidariedade. Isso se dá em função da lógica industrial do produtivismo, que é marcada pela realização de metas, pela valorização da eficiência e pela avaliação do desempenho, o que amplia o sentimento de competitividade entre os professores e professoras. Com as relações coletivas abaladas, a solidariedade e mobilização da categoria ganha novos desafios que o Sindicato busca enfrentar por meio da discussão deste processo na academia. Segundo Julie, “A cobrança pela produtividade vem desde a pós-graduação”, mostrando a tendência comum nas universidades de se priorizar a quantidade de produção em detrimento da qualidade e se reproduz em efeito cascata com docentes e alunos, acabando por atingir toda lógica de funcionamento da comunidade acadêmica.
Além da questão social, a psicóloga falou sobre os impactos do adoecimento mental na identidade e sentido do trabalho, que faz com que professores e professoras se sintam insuficientes e questionem suas capacidades, questionem a construção de suas carreiras que acaba por reduzir significativamente a satisfação e o desejo de progressão na universidade. Além disso, há uma constante sensação de culpa e dívida em relação às metas de produtividade. Professores e professoras estão sempre produzindo, aproveitam noites, fins de semana, férias para colocar projetos em dia, para finalizar artigos e continuar produzindo.
Em um cenário tão crítico, parece cada vez mais urgente que estratégias de enfrentamento e transformação sejam elaboradas de forma coletiva. O que podemos pensar como alternativas à esta crise? Para a convidada do simpósio, a ampliação da coesão e da solidariedade entre grupos, por meio de divisões de responsabilidades nos departamentos e a colaboração efetiva em projetos e pesquisas, e a criação de espaços coletivos para debate e acolhimento são essenciais. Docentes que se encontram em situação de sofrimento devem ter a possibilidade de falar sobre isso sem serem silenciados e essa pauta deve ser coletivizada e pensada pelos seus determinantes sociais presentes no trabalho. O NADi/APUBH se propõe a fornecer esse ambiente.
Para compartilhar experiências, dificuldades e propostas de ação, o Núcleo de Acolhimento e Diálogo está aberto à participação de toda a categoria. O contato pode ser feito pelo whatsapp no número (31)99949-9135, por e-mail, pelo acolhimento@apubh.org.br, ou presencialmente na sede do APUBH. Os plantões semanais são realizados às segundas-feiras, de 09:00h às 12:30h. Demais atendimentos devem ser marcados nos contatos do Núcleo.