Acontece no APUBH

Por que somos contra a implantação do Ensino Híbrido Emergencial, no 2º semestre de 2021?

Volta às aulas presenciais sim, mas com segurança

A resolução que regulamenta a implantação do Ensino Híbrido Emergencial (EHE) na UFMG foi aprovada, na quinta-feira passada (19/08), por unanimidade, pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE/UFMG). A proposta é que a modalidade de ensino, que mescla atividades presenciais e virtuais, entre em vigor no dia 13 de outubro, data de início do segundo período letivo de 2021. O EHE substitui, portanto, o Ensino Remoto Emergencial (ERE), adotado no ano passado, em decorrência da pandemia da Covid-19.

No dia seguinte à aprovação (20/08), a UFMG promoveu uma reunião sobre o retorno híbrido das atividades acadêmicas curriculares e suas justificativas, com a presença a professora Sandra Regina de Almeida Goulart, reitora da universidade, da professora Benigna Maria de Oliveira, Pró-Reitora de Graduação, e dos docentes Cristina Alvim e Unaí Tupinambás, do Comitê Permanente de Enfrentamento do Novo Coronavírus da UFMG. A convite da reitora, o APUBH UFMG+ participou da reunião, sendo representado por membros da Diretoria Geral e da Comissão do Ensino Híbrido do sindicato.

Diante da decisão da UFMG de implementar o EHE, ainda no 2º semestre deste ano, devemos nos questionar: esse é o momento para tomar essa atitude? A universidade está pronta pra iniciar a retomada das aulas presenciais, sem colocar em risco a vida e a saúde da nossa comunidade acadêmica? As aulas híbridas presenciais serão gravadas pelas unidades e transmitidas para os estudantes que optarem por permanecer em casa ou será o professor quem, posteriormente, terá que repetir o mesmo conteúdo com duplicidade do trabalho ao executar a gravação da aula presencial?

A ampla vacinação ainda não é uma realidade no Brasil. Menos de 60% da população teve acesso à primeira dose da vacina e apenas 27,2% da população recebeu a segunda dose. Em Belo Horizonte, a cobertura do protocolo vacinal está um pouco melhor que os dados para o Brasil. São 76,8% da população residente em Belo Horizonte maior de 18 anos e trabalhadores vacinados com a primeira dose da vacina, e 38,2% vacinados com a segunda dose. Uma conseqüência direta da necropolítica do Governo Bolsonaro, que colocou em descrédito e atrasou a compra do medicamento. Neste momento, o início da retoma das atividades presenciais na universidade, ainda que com um menor contingente de pessoas, contribuiria ativamente para possibilitar o aumento da contaminação pelo vírus, bem com a sua transmissão para familiares. Devemos estar atentos, no mês que se inicia,aocomportamento da variante Delta em Minas Gerais e Belo Horizonte e sua disseminação junto à população.

O sucateamento da Educação pública no Brasil é outro dos reflexos da política negacionista e de desmonte do papel do Estado, que norteia o Governo Bolsonaro. As universidades e institutos federais de ensino, em especial, sofrem a expressiva diminuição no orçamento de verbas de pesquisa e de custeio de suas atividades. A falta de recursos já afeta, por exemplo, os serviços de manutenção e outras despesas de rotina, em diversas instituições do país.

Nesse cenário de diminuição de investimentos, é difícil acreditar que a universidade terá condições de arcar com mais essas despesas. A retomada das aulas presenciais, ainda que parcial, exigirá que a universidade arque com os custos extras para garantir as condições adequadas de biossegurança para as atividades presenciais. Esses custos incluem a aquisição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e os investimentos com a logística e o pessoal para executar os protocolos de segurança sanitária.

Outro ponto que deve ser levado em consideração é que a logística do retorno às atividades presenciais não se restringe às salas de aula.  Existe a necessidade de convívio em espaços comuns, como as bibliotecas e restaurantes universitários. E além do espaço físico da universidade, ainda há a circulação externa, que contribui para a propagação do vírus. Como é o caso do deslocamento por meio de transportes públicos, na maioria das vezes com excesso de lotação, e o contato com pessoas externas à instituição, como comerciantes e familiares.

O APUBH UFMG+ se opõe Ensino Híbrido Emergencial (EHE), no 2º semestre deste ano. A implementação do Ensino Híbrido Emergencial na UFMG foi colocada em debate pela categoria docente, em assembleia no dia 28/07, à época da publicação do Ofício nº 10/2021-PROGRAD-UFMG. Na ocasião, houve o encaminhamento de que, caso a universidade aprovasse a Resolução que implementa o EHE a partir do 2º semestre, o sindicato deveria sinalizar, junto à categoria, a construção efetiva da deflagração de uma Greve Sanitária, bem como a adoção das medidas jurídicas cabíveis.

O Sindicato mantém irresoluto o seu compromisso de luta pelos direitos e interesses da categoria a que representa e e já convocou o conselho de representantes para começar as discussões sobre as ações a serem tomadas em relação ao retorno híbrido emergencial.  E, nesse caso, lutamos por algo primordial: o direito de preservar a saúde e a própria vida de docentes, estudantes, técnicos, terceirizados e seus familiares. É preciso que seja estabelecido um amplo diálogo com a comunidade acadêmica, embasado em evidências científicas, para que sejam planejadas as melhores formas e momento para o início do retorno. Devem ser garantidas as condições de biossegurança para toda a comunidade universitária.

As professoras e professores não cessaram as suas atividades, durante a pandemia. Pelo contrário, a sobrecarga de trabalho e o aumento dos casos de sofrimento físico e mental tem crescido dentro da categoria, nesse período de ERE.  O retorno à sala de aula e ao convívio com estudantes e colegas é um desejo compartilhado pelos docentes. Contudo não se trata de nos nortearmos por nossas próprias vontades ou pela pressão da qual temos sido vítimas, mas pela defesa da vida e da saúde.

Volta às aulas presenciais sim, mas com segurança.

 

APUBHUFMG+ – Sindicato dos Professores da Universidade Federal de Minas Gerais e Campus Ouro Branco/UFSJ – Gestão Travessias na Luta – 2020/2022