Por que greve? Por que agora?
A história das greves se confunde com a história da classe trabalhadora. A palavra tem origem do vocábulo francês, Grève. É proveniente da Place de Grève, um local nas proximidades do rio Senna, Paris, que era ponto de desembarque e embarque de navio e onde se reuniam inúmeros desempregados e operários insatisfeitos com as duras condições de trabalho. O termo greves, em sua origem, significa “terreno plano composto de cascalho ou areia à margem do mar ou do rio, onde se acumulavam inúmeros gravetos”. Daí o nome da praça em Paris e a origem etimológica do vocábulo, que foi utilizado pela primeira vez ao fim do século XVIII.
As greves, a princípio, não eram regulamentadas. Vencia a parte mais forte: ou o chefe atendia parcial ou totalmente as reivindicações dos operários para se evitar mais perda de lucros devido à paralisação da produção, ou os operários retornavam ao trabalho pelo receio do desemprego. Foram as greves que nos garantiram os direitos mais básicos: regulamentação da jornada de trabalho, direito às férias, proibição do trabalho infantil, descanso semanal, aposentadoria, assistência médica, entre outros.
No Brasil, há relatos sobre greves enquanto instrumento de luta da classe trabalhadora desde o século XIX, através da ação de mulheres e homens escravizados que paralisavam suas atividades, tal qual a greve negra de 1857 em Salvador, em que trabalhadores africanos e afrodescendentes escravizados ou já libertos, que compunham a estrutura do transporte de cargas, tonéis de água e pessoas paralisaram suas atividades por 12 dias.
A primeira greve geral no país ocorreu em 1917, em que a insatisfação dos operários deflagrou paralisação em várias capitais do país, reunindo cerca de 70 mil trabalhadoras e trabalhadores e durou 30 dias. As demandas variaram regionalmente, mas as principais pautas eram a regulamentação de trabalho para mulheres e jovens e diminuição da jornada de trabalho, que na época podia alcançar até 16 horas. Outra importante greve foi a Greve Geral de 1962 que dentre as vitórias alcançadas, está a obtenção do 13º salário. Durante a ditadura militar no Brasil, as greves, apesar de duramente reprimidas, foram lutas fundamentais dos trabalhadores e trabalhadoras para o fim do Estado de exceção no país.
Foi através dos movimentos grevistas que nossos direitos foram alcançados. Aqui no Brasil, é um Direito Constitucional desde 1988. Em momentos em que a classe trabalhadora é estrangulada por medidas anti-trabalhistas e que os direitos outrora alcançados são ameaçados, a greve é o principal instrumento de luta dos trabalhadores.
O momento atual é um destes. A Reforma Administrativa, ordem do dia para o governo Bolsonaro, quer acabar com a estabilidade e a carreira dos servidores públicos, além de criar cerca de um milhão de cargos que colocarão o serviço público à mercê das indicações políticas. Especificamente em relação à educação superior, os subsequentes cortes de investimentos realizados pelo governo federal estão ferindo de morte o ensino, a pesquisa e a extensão públicos, gratuitos e de qualidade social e científica. Neste momento, é essencial que a greve esteja em nosso horizonte. Foi através dela que, historicamente, conquistamos todos os nossos direitos. É e será através da greve que os manteremos os direitos conquistados.
APUBHUFMG+ – Sindicato dos Professores da Universidade Federal de Minas Gerais e Campus Ouro Branco/UFSJ – Gestão Travessias na Luta – 2020/2022