Nota da Diretoria do APUBH em repúdio ao pronunciamento do presidente Bolsonaro, no dia 24/03
A Diretoria do Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte, Montes Claros e Ouro Branco repudia fortemente o pronunciamento proferido em rede nacional pelo presidente Jair Bolsonaro, no dia 24 de março de 2020.
- O pronunciamento contraria indicações da Organização Mundial de Saúde e do próprio Ministério da Saúde em relação à importância da quarentena, como modo comprovadamente eficaz de contenção da epidemia. Sua sugestão de que o fechamento das escolas não é necessário ignora o fato de que os casos assintomáticos podem representar 60% das infecções e que, ainda que não representem o grupo de risco para óbito, essas crianças e jovens serviriam de vetores para infectar idosos e pessoas em outros grupos de risco (pessoas com doenças coronarianas, hipertensos, pessoas com problemas respiratórios, etc.).
- O presidente, ao chamar a pandemia de “gripezinha” ou “resfriadinho”, tirando de contexto uma fala proferida há algum tempo pelo Dr. Dráuzio Varella, desconsidera que, até o presente momento e sem atingir seu pico epidêmico em vários países, o coronavírus já superou o quantitativo de mortes da pandemia de H1N1, ocorrida em 2009.
- O ataque explícito, em seu discurso, aos meios de comunicação e à liberdade de imprensa, em função da divulgação da situação da epidemia em outros países. Em nosso entender, o acesso à informação é essencial e direito de todos os cidadãos.
- O desserviço prestado, ao anunciar a cloroquina como medicamento a ser usado no combate ao coronavirus, sem maiores explicações sobre ainda ser um tratamento experimental e cuja eficácia não foi comprovado, mas que pode apresentar efeitos colaterais e suja compra, por pessoas não infectadas e feita sem indicação médica, deixa pacientes que necessitam dessa medicação para tratamento de outras patologias sem acesso ao medicamento.
- A ironia ao dizer que “Deus capacitará cientistas e pesquisadores do Brasil e do mundo na cura dessa doença” na mesma semana em que o Ministério da Educação cortou cerca de 20% das bolsas de pós-graduação de todos os programas assistidos pela Capes, e ao prestar homenagem a profissionais de saúde, que tem estado na linha de frente do combate ao coronavírus, quando faltam testes e materiais de proteção individuais, em função, dentre outras razões, dos contingenciamentos recentes, decorrentes da EC95.
- O Brasil enfrenta esta epidemia com um sistema de saúde desde sempre subfinanciado, mas ainda mais debilitado pelos cortes recentes, o que fragiliza sua capacidade de resposta rápida principalmente para os setores mais vulneráveis da população, incluindo idosos e pessoas com doenças prévias. Precisamos exigir a recomposição do financiamento do SUS e dos recursos para a Ciência e Tecnologia. Por enquanto, devemos tentar achatar a curva de contágio e para isso o melhor sistema é o isolamento social, ficando em casa.
Neste sentido, a Diretoria reforça seu repúdio à fala do presidente e recomenda aos associados que continuem seguindo as recomendações de saúde feitas pelas autoridades sanitárias. Não podemos interromper a quarentena, que deve ser mantida por aqueles que têm respeitado seu direito de fazê-la. Assim, ela servirá não apenas para sua própria proteção, mas para a de todos, incluindo aqueles que estão na linha de frente da luta contra o Coronavírus: pessoal de saúde, limpeza, abastecimento.
Entidades que reúnem estudiosos e profissionais de saúde coletiva, protagonistas históricos da luta pelo direito universal à saúde e criação do SUS no Brasil, manifestaram sua indignação com o pronunciamento do presidente da República, na noite dessa terça-feira (24/03) sobre a epidemia de Coronavírus no país. Veja a nota da ABRASCO.
Para maiores informações veja o vídeo do professor da Faculdade de Medicina da UFMG, médico infectologista e Diretor do Sindicato, Unai Tupinambás.