Em seminário online, APUBH defendeu o papel da Ciência e da Tecnologia
Inteligência Coletiva Minas Gerais, coletivo formado por docentes e pesquisadores, promoveu o Seminário “Impactos das ICTIs no Desenvolvimento Social e Econômico dos Territórios de Minas Gerais”.
Minas Gerais conta com dezenas de campi e unidades de Instituições de Ciência, Tecnologia e Inovação (ICTIs) em suas várias regiões, sendo o território da União com mais estabelecimentos da área fora capital. As ICTIs têm papel fundamental para o desenvolvimento de Minas Gerais e do Brasil, sobretudo nesse momento de crise sanitária e humanitária que estamos enfrentando. O Inteligência Coletiva Minas Gerais, coletivo formado por docentes e pesquisadores, colocou esses temas em debate no Seminário “Impactos das ICTIs no Desenvolvimento Social e Econômico dos Territórios de Minas Gerais”. O evento online foi transmitido ao vivo, na tarde da sexta-feira passada (23/04), no canal do YouTube do coletivo.
O Seminário foi mediado pelo Prof. Sandro Cerveira, presidente do Fórum das Instituições Públicas de Ensino Superior do Estado de Minas Gerais(FORIPES) e reitor da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL), e por representantes da coordenação do coletivo: a profa. Zélia Profeta, diretora do Instituto Rene Rachou (FIOCRUZ MINAS), o prof. Luciano Mendes, secretário Regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência(SBPC) em Minas Gerais, e a Deputada Estadual Beatriz Cerqueira, presidenta da Comissão de Educação e Ciência e Tecnologia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).A presidenta do APUBH UFMG+ e professora da UFMG, Maria Rosaria Barbato, o ex-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), Mário Neto, o atual presidente da FAPEMIG, Paulo Sérgio Beirão, e a vice-presidenta da Associação Nacional de Pós-graduandos (ANPG),Stella Gontijo, comentaram as realidades e possibilidades do setor de CT&I no estado. Os professores Moisés Diniz Vassalo, da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), e Ignácio Godinho Delgado, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), abordaram a presença das instituições nas respectivas regiões.
No início de sua fala, a presidenta do APUBH UFMG+ agradeceu pela oportunidade de “colocar a nossa leitura da realidade, como entidade de luta e de resistência contra o desmonte da Educação e da Ciência, e de dialogar em um espaço plural e combativo, buscando, coletivamente, saídas de valorização da Ciência, da Tecnologia e, acima de tudo, dos nossos pesquisadores”. Retomando a fala do Prof. Beirão, a professora ressaltou que ainda falta valorização da Ciência e da Tecnologia, que são ferramentas essenciais para a compreensão humana do mundo natural e social. Ferramentas estas que, na avaliação dela, são fundamentais para o crescimento econômico e social, a geração de empregos e de renda e a democratização das oportunidades, sobretudo, no cenário atual de desenvolvimento das forças produtivas.
A professora Maria Rosaria observou que, em virtude da pandemia da COVID-19, o papel do setor de CT&I vem se evidenciando para a sociedade em geral. “Estamos vivenciando uma pandemia que já matou mais de três milhões de pessoas. E o mundo recorreu, para tentar conter os efeitos da doença que se alastra, à Ciência e a Tecnologia. Busca esta que se materializa nas vacinas, produzidas em tempo recorde e que são as únicas formas efetivas, até então, de controle daCOVID-19”, observou a docente. “Governos que trataram a pandemia com a seriedade necessária, ouvindo as instituições de ciência e tecnologia, tiveram maior êxito em amenizar os impactos da pandemia. Governos que se posicionaram de maneira obscurantista, negando os pressupostos científicos, viram seus países colapsarem perante a pandemia. É o caso dos Estados Unidos e do Brasil”, ponderou a professora.
A docente afirma que “o trágico da situação é que o próprio governo Bolsonaro, em discurso, contradiz a materialidade do que foi seu desdém à situação de pandemia”. A professora se referiu ao Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste de 2019, que ela pondera que está “repleto de erros econômicos e históricos” e, ainda assim, na conclusão do tópico que apresenta os Aspectos Histórico-Econômicos do Desenvolvimento Econômico, afirma-se: “o Estado, mesmo ao nível local, na forma de um município isolado ou de um consórcio municipal, deve ter um papel central na função Ciência, Tecnologia e Inovação”.
No entanto, mesmo com essa percepção e a experiência da pandemia, o atual governo não mudou a sua postura anti-Ciência. “No caso particular de nosso país, o presidente abertamente se posicionou contra as explicações e soluções científicas para o problema enfrentado”, completou. A professora relembrou que, em janeiro deste ano, o Governo Federal cortou R$ 9 bilhões da principal fonte de financiamento do setor de CT&I do país, o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), através de uma sanção à Lei Complementar 177. A situação foi agravada com a aprovação, neste mês, da Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021, que reduziu a verba da área em 29% em relação a 2020, além de um corte global de 27% na educação.
Apesar dos cortes do setor, os cientistas do Centro de Tecnologia em Vacinas (CTVacinas), da UFMG, estão avançando no processo de produção da primeira vacina brasileira contra a COVID-19. O medicamento segue para a fase de testes clínicos em voluntários. A UFMG também contribui diariamente para sociedade, servindo como ponto de vacinação e divulgando informações confiáveis e cientificamente comprovadas sobre a pandemia. Essa última, devemos ressaltar, é crucial em tempos de obscurantismo e alta circulação de fake news. “Se com tamanho desinvestimento em ciência e tecnologia, nossos colegas seguem fazendo trabalhos que teriam forte impacto sobre o território, qual seria o resultado se apoiados corretamente em suas pesquisas? Certamente, a situação que estamos vivendo seria amenizada”, refletiu a professora Maria Rosaria Barbato.
A presidenta do APUBH UFMG+ finalizou a sua participação no Seminário reforçando o papel da luta coletiva na defesa da Ciência, através da união de entidades, instituições, trabalhadoras e trabalhadores comprometidos com a causa. A professora ponderou ainda que a luta pela Ciência no Brasil também passa, necessariamente, pela defesa do serviço público, vítima de desmonte pelo atual governo federal. Nesse sentido, ela destacou o trabalho desenvolvido nas universidades públicas, principais responsáveis pela produção de conhecimento no país, e pelas agências de fomento à pesquisa, como a FAPEMIG, que é fundamental para o desenvolvimento do setor no estado. “Por tudo isso, não posso me eximir de dizer neste espaço: Fora Governo Bolsonaro! Fora Governo de Morte e de Fome! A terra não é plana! Viva a ciência, viva os pesquisadores, viva os nossos professores!”, disse a professora Maria Rosaria.