Depressão, ansiedade e burnout estão entre os resultados da opressão do Capitalismo na Universidade
O APUBH UFMG+, por meio do seu Núcleo de Acolhimento e Diálogo- NADi, realizou o terceiro encontro do ciclo de debates “Saúde nesta crise?” nesta quarta, dia 21 de setembro, na Escola de Enfermagem da UFMG. O tema do evento foi “Capitalismo e sua opressão na Universidade” e contou com a participação e contribuição do professor Helian Nunes de Oliveira, do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG. O evento aconteceu de forma híbrida e o professor abordou o tema no momento inicial do debate e, posteriormente, os demais participantes trouxeram contribuições sobre o assunto.
O professor conduziu a discussão trazendo dados sobre o sofrimento mental da população mundial, destacando que a ansiedade e a depressão afetam 264 milhões de pessoas e geram custos à saúde de cerca de US$ 1 trilhão por ano, sendo que o investimento em saúde mental dentro das organizações tem potencial de gerar 4 vezes mais o valor investido. Ao invés disso, temos o movimento contrário, com pessoas cada vez mais estafadas e insatisfeitas com seus trabalhos e uma produção intensa de ausência de sentido e desgaste emocional, resultando em quadros depressivos, ansiosos e burnout.
O professor relatou que, na medida em que as pessoas começam a manifestar insatisfação, desprazer, começam a se referir ao trabalho de maneira negativa, a mostrar desinteresse e a considerar o trabalho monótono ou mecânico – coloca-se um sinal de alerta, pois algo não vai bem naquele ambiente ou organização. Um agravante importante é o processo de naturalização e silenciamento desses sofrimentos. As pessoas inseridas na rotina, nas exigências constantes e intensas por produtividade acabam por considerarem o estresse, o cansaço, a falta de energia, as alterações de apetite, sono ou metabólicas normais e toleráveis diante dos padrões de produção, competitividade e cobranças estabelecidos. Essa realidade dentro da Universidade não é diferente. O professor destacou que, com a pandemia, as condições de trabalho tornaram-se ainda mais penosas na Universidade, com a inserção do trabalho remoto, consequente avanço da individualização que provocam isolamento e sentimentos negativos.
Como medidas fundamentais para enfrentar essas problemáticas, o professor Helian destaca que as saídas devem contemplar três eixos: o individual, com criação de espaços de acolhimento e escuta para dar vazão e se reconhecer essa realidade; o eixo coletivo, em que se busca as relações entre os adoecimentos e o meio, rastreamento de casos, investigação de nexos causais; e o eixo funcional, a partir da compreensão de uma premissa básica da Constituição Federal: “A instituição que coloca um indivíduo ou grupo de pessoas em alguma situação de risco é responsável pelas intervenções necessárias para lidar com a exposição, sofrimento ou adoecimento”.
O terceiro encontro do ciclo de debates reforçou ainda mais a necessidade de debater o sofrimento docente e o sofrimento na academia. Isso é fundamental para desnudar essa realidade tão silenciada e oprimida pela produtividade e desmistificar o sofrimento como oriundo de causas unicamente individuais. O engajamento da comunidade acadêmica na defesa de condições dignas, justas e satisfatórias de trabalho é fundamental para a defesa da própria Universidade Pública e do seu espaço laboral que tem como objetivo a contribuição social. Como destaca o professor: “Que as pessoas fiquem melhores ao participarem das instituições, em especial nas instituições de ensino”.