Como as pautas regressivas e a pandemia afetam a vida das mulheres?
Integrantes de movimentos de mulheres debateram os impactos da atual crise sanitária e humanitária e do governo de extrema-direita, no último dia do Seminário FALA de MULHER no APUBH. Assista no canal do sindicato no YouTube.
Na noite desta quarta-feira, 07/04, a live “Os movimentos de mulheres em MG: pautas regressivas e o impacto na vida das mulheres” encerrou o Seminário FALA de MULHER no APUBH. O Seminário contou ainda com outras duas lives nos dias 29 e 30 de março, transmitidas ao vivo, através do canal do APUBH no Youtube. O debate teve a presença de Firminia Rodrigues, integrante do Movimento Mulheres em Luta e uma das organizadoras do ato 8M Unificado BH e Região Metropolitana, e de Bernadete Esperança, integrante da Marcha Mundial das Mulheres e da Frente Brasil Popular e uma das organizadoras do ato 8M Popular. A mediação ficou a cargo de Analise da Silva, professora da UFMG e 1ª vice-presidente do APUBH UFMG+.
Na abertura, a 1ª vice-presidente do sindicato agradeceu a participação das convidadas. Ela comentou a notícia sobre a previsão de que, naquele dia (07/04), haveria um número maior de vítimas fatais “em decorrência da pandemia da Covid-19 no país e do pandemônio político do governo que se comprometeu em nos matar”. A professora ainda ressaltou que uma parte significativa das mortes é de mulheres.
“Nós estamos lutando para sobreviver”
A primeira convidada a falar foi Bernadete Esperança, enfermeira, integrante da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres e da coordenação estadual da Frente Brasil Popular e uma das organizadoras do ato 8M Popular. Para Esperança, “a pandemia só vem exacerbar uma perspectiva de crise que já estava instaurada e ela veio para escancarar de vez as desigualdades e essa perspectiva, inclusive, da ofensiva sobre as nossas vidas”. Ela ainda lembrou que no Brasil, com a pandemia, no último mês, já se contabilizam mais de 14 milhões de desempregados e que, dentre esses, 65% são mulheres. “E quem são essas mulheres? As mulheres que estavam nos serviços, nos setores de serviços, em que somos maioria e as trabalhadoras domésticas. São quase 2 milhões de trabalhadoras domésticas desempregadas no Brasil hoje e, claro, quando a gente olha a cor da pele, são mulheres negras. Somos a maioria das desempregadas hoje no Brasil”, disse.
A integrante da coordenação nacional da Marcha Mundial das Mulheres falou ainda de outra situação agravada pela pandemia: a violência contra a mulher. “A gente viu o aumento em todo o mundo. A necessidade do isolamento social favoreceu esse aumento, seja pelas próprias tensões geradas dentro dos lares, seja pelo próprio desemprego, pela fome, mas também, pela maior permanência das mulheres junto ao seu agressor”, falou. E completou dizendo que a “pandemia também dificultou o acesso das mulheres às políticas públicas de proteção e de enfrentamento à violência”, por razões diversas: dificuldade de sair de suas casas porque o agressor está na casa; medo de se colocar em risco ou a seus filhos; porque os serviços estavam mais restritos; muitos não conseguiram acesso à internet ou ao telefone; ou muitas sequer sabiam do serviço.
Bernadete Esperança acredita que a pandemia tem demonstrado a importância do trabalho doméstico para a sustentabilidade da vida e da própria economia. Ela ponderou, contudo, que esta função de cuidados com outras pessoas e com a casa tende a recair sobre as mulheres, gerando sobrecarga. A enfermeira citou a realidade de que as mulheres precisam se desdobrar entre o cuidado com os filhos e os seus empregos, seja por meio presencial ou remoto. Com isso, ela observa que a pandemia afeta diferentes dimensões da saúde feminina, que passa pela infecção da Covid-19, mas também pela saúde mental, que teve grande piora nesse período.
A enfermeira lembrou que o país registrou mais de 4 mil mortes em decorrência da Covid-19, nas últimas 24 horas, resultando no fato de que, “hoje, no Dia Mundial da Saúde, infelizmente, o Brasil está nessa condição do país que é o pior no enfrentamento à Covid do mundo. Hoje é o epicentro, inclusive, da Covid”. “A gente sabe que isso não é só pelo vírus em si, é pela responsabilidade ou irresponsabilidade desse governo que está aí que é um governo genocida, que é um governo que tem um projeto de morte, de assassinato do nosso povo”, lamentou. Bernadete Esperança finalizou sua fala ressaltando que, neste momento, estamos enfrentando os riscos do vírus, mas também do governo genocida de Bolsonaro, que tem a conivência do governador mineiro. “Nós estamos lutando para sobreviver”, definiu.
“A cada nove horas, uma mulher é vítima de feminicídio no país”
Prosseguindo com o debate, a segunda convidada a ter a palavra foi Firminia Rodrigues, integrante do Movimento Mulheres em Luta e uma das organizadoras do ato 8M Unificado BH e Região Metropolitana. Na análise da convidada , o país atravessa um momento de crise em diferentes áreas, como a econômica, a social e a sanitária. Crise esta que, ainda em sua opinião, é aprofundada pelo governo Bolsonaro, que é responsável por inúmeras mortes por Covid-19, que poderiam ter sido evitadas. A convidada qualifica este como um “governo de morte que tem um projeto de morte para o país, para os trabalhadores e trabalhadoras, para o povo do país. Essas mortes são muito alarmantes”.
Ela ressaltou que o compromisso desse governo com a morte não se limita à pandemia, mas também está presente no incentivo à violência e ao ódio, que se manifestam no machismo, na lgtbfobia, no racismo, entre outros preconceitos. Para ela, o governo se presta a uma política neoliberal, que pretende entregar as riquezas naturais e os recursos financeiros do país para o capital estrangeiro, privatizarem presas e serviços públicos e retirar os direitos da população.
Firminia Rodrigues alertou para as diferentes formas de agressão a que as mulheres no Brasil estão expostas, como violência psicológica, moral, física, sexual, patrimonial e obstétrica, entre outras. “O índice de feminicídio no país é muito alto, o Brasil é um dos países que mais matam mulheres apenas por serem mulheres. A cada nove horas, uma mulher é vítima de feminicídio no país. Esse é um número muito alto”, lamentou. Para a convidada, esta realidade foi agravada pelas especificidades da pandemia, como, por exemplo, nos casos de mulheres que estão em isolamento, junto a maridos que são agressores.
A integrante do Movimento Mulheres em Luta ponderou que a cultura de ódio e o sucateamento da assistência prestada à população, presentes no Governo Bolsonaro, também afetam a condição de vida das mulheres. Segundo ela, o pouco investimento público no combate à violência contra as mulheres se tornou ainda menor neste período de crise. Nesse ponto, ela criticou a atuação da ministra à frente do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do atual governo, Damares Alves, que “apesar de ser uma mulher, a Damares é uma mulher que não está do lado da maioria das mulheres e muito menos das mulheres vítimas de violência”.