A UFMG na UTI
Em 2008, vivíamos um momento em que não havia uma pandemia no país, que já matou mais de 450 mil brasileiros. Era o começo de uma crise econômica mundial, porém os efeitos no Brasil ainda eram leves. A Universidade Federal de Minas Gerais possuía cerca de 20 mil alunos. Hoje, vivemos uma pandemia, temos um governo proponente de uma verdadeira necropolítica, nos encontramos em uma crise política, econômica e social sem precedentes. O número de alunos da UFMG saltou para 44 mil, sendo 32 mil estudantes de graduação e mais 12 mil estudantes de mestrado e doutorado. Situações muito diferentes, números muito diferentes. O que estes dois anos tem em comum? O orçamento destinado à universidade.
Os cortes na UFMG, em termos numéricos, alcançam a casa de R$ 76 milhões no orçamento, em relação à 2020. Estes cortes ocorrem em decorrência à aprovação da Lei Orçamentária Anual em março deste ano, que reduziu drasticamente o orçamento das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES). Como se não bastasse, ainda houve vetos presidenciais e bloqueios que afetaram vários ministérios. O montante total dos vetos foi de R$1,1 bilhão no orçamento do Ministério da Educação. Valores estes que se somam ao bloqueio orçamentário no MEC, que foram de R$2,7 bilhões.
A situação é dramática. São grandes as chances da UFMG fechar as contas no vermelho, quando chegar o fim do ano. Em entrevista ao Estado de Minas, a reitora Sandra Regina Goulart de Almeida, afirmou: “A situação é gravíssima e o cenário, desolador. Na história da UFMG, nunca vimos uma situação tão drástica”.
Os efeitos destes cortes são variados. Em primeiro lugar, como foi bem colocado pela reitora Sandra Regina de Almeida Goulart em outra entrevista, ao Hoje em Dia, as “(…) universidades, além de desenvolverem atividades de ensino, pesquisa e extensão, influenciam a vida econômica e social dos municípios onde estão instaladas. Só a UFMG movimenta cerca de 60 mil pessoas na realização rotineira de suas atividades”.
Os cortes afetarão a atuação da universidade no ensino, na pesquisa e na extensão. A política de Ações Afirmativas da UFMG, por exemplo, promove práticas de acolhimento e apoio articulado ao direito social de permanência do estudante que é oriundo de famílias de baixo poder aquisitivo ou outras situações sociais, certamente será impactada com os cortes do orçamento, dificultando a permanência desses estudantes, a viver a vida universitária em sua plenitude. Para além disso, as despesas de manutenção infraestrutural da universidade, como as contas de água, luz e telefone estarão comprometidas, assim como os serviços de conservação dos prédios, a limpeza e a segurança.
Em um contexto como o atual, em que uma pandemia já tirou a vida de quase 470 mil pessoas no Brasil, o desinvestimento criminoso que está sendo realizado nas universidades afeta diretamente o desenvolvimento de pesquisas que podem nos tirar da dramática situação sanitária e humanitária que o governo Bolsonaro e sua necropolítica nos enfiou. Vale lembrar que, no Brasil, existem sete vacinas em desenvolvimento contra a Covid-19, todas por Universidades Federais. Três delas estão mais adiantadas, incluindo-se entre elas a desenvolvida pelo CT-Vacinas da UFMG. A vacina chamada Spintec e encontra-se na fase de testes em primatas, em seguida, entrará nas etapas 1 e 2 de testes clínicos em humanos. O que está sendo colocado em jogo com estes cortes é a própria existência da Universidade Federal de Minas Gerais, projeto neoliberal do governo Bolsonaro, e, portanto, a retirada progressiva do direito amplo da sociedade em ter acesso à educação superior gratuita e de qualidade referenciada. Com todo o desinvestimento colocado em prática pelo governo federal, a nossa universidade está na UTI. É através de nossa mobilização, professores e professoras da UFMG,que conseguiremos manter existindo nossa universidade pública e gratuita, mantida com os investimentos públicos para o ensino, a pesquisa e a extensão, social e cientificamente referenciados. Não há outro caminho!