Acontece no APUBH

APUBH promove debate sobre cultura e resistência de negras e negros na conjuntura atual

A resistência das negras e dos negros no Brasil na conjuntura sociopolítica atual, a ancestralidade africana presente na cultura brasileira e o papel da Universidade no combate ao racismo. Esses temas foram trazidos à tona na Mesa Redonda “Afrodescendentes em Foco”, realizada pela APUBH, nesta segunda-feira (26/11), na Escola de Ciências da Informação – ECI/UFMG. A atividade integrou a programação do Novembro Negro da UFMG.

A mesa redonda contou com a presença de Diva Moreira, jornalista e cientista política, Marcos Cardoso, filósofo e representante do Movimento Negro Unificado (MNU) em Belo Horizonte, Makota Kizandembu, sacerdotisa e diretora da Diretoria de Políticas para a Igualdade Racial (DPIR), e Babilak Bah, músico percussionista.

Após as falas iniciais, os participantes conversaram com os presentes sobre os temas levantados. A mediação foi feita pelo professor Rubens Alves da Silva (ECI/UFMG), da Diretoria Setorial de Arte e Cultura da APUBH. “Essa discussão é muito importante nessa data, nesse momento”, reforçou o professor.

Confira também a cobertura do evento em nossas redes sociais.

Diva Moreira: “O racismo é algo estrutural, que penetra em todos os espaços da vida pública e privada”

Em sua fala, a  jornalista e cientista política Diva Moreira chamou a atenção para as vidas perdidas de  afrodescendentes, vítimas do racismo estrutural e institucional, principalmente de moradores de aglomerados e territórios devastados pelo narcotráfico, sem políticas públicas e sociais. A cientista política analisou que, nas raízes do racismo no Brasil, o fato de que o próprio povo negro interiorizou o conceito de “superioridade” branca, disseminado na cultura, estética e publicidade majoritariamente brancas.

“O racismo é algo estrutural, que penetra em todos os espaços da vida pública e privada”, observou Moreira. “As pesquisas são reveladoras, quaisquer indicadores que nós formos analisar na área da saúde, da educação, no saneamento básico etc., descobrimos que a população negra atendida pelo ‘mesmo Estado’ tem indicadores sociais diferenciados. Nós atribuímos isso ao racismo”, frisou sobre o racismo institucional.

Makota Kizandembu: “Os nossos corpos sentem o racismo no cotidiano”

A sacerdotisa Makota Kizandembu analisou a situação caótica de racismo em que vivemos, apontando os casos de perseguição religiosa e de violência a afrodescendentes, principalmente nas periferias das grandes cidades. “Os nossos corpos sentem o racismo no cotidiano”, analisou. Ela considera que os principais territórios de resistência da população negra são justamente esses espaços marginalizados, de periferias e de prática de religiões de matriz africana. Em seu trabalho à frente da Diretoria de Políticas para a Igualdade Racial (DPIR) da Prefeitura de Belo Horizonte, ela tem focado os esforços no enfrentamento ao racismo, através das políticas de segurança.

A sacerdotisa chamou a atenção para as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas no meio acadêmico sobre a cultura das populações negras e outros temas ligados à herança africana em nosso país. Segundo ela, é papel da Universidade levar esse conhecimento para a sociedade, como forma de resgate da história e sabedoria do povo negro. “A Universidade tem o papel de ajudar a população brasileira a se reorganizar e a reconstruir a democracia”, reforçou. “Esse é o papel da Universidade: resistir, resistir, resistir!”.

Marcos Cardoso: “Temos que nos aquilombar”

O filósofo Marcos Cardoso propôs pensar a conjuntura através de uma perspectiva histórica, que leve em consideração o racismo presente na estrutura política e cultural do país. Cardoso apontou que o racismo estrutural não afeta apenas a sociedade, mas também a maneira como as pessoas percebem a própria identidade.

É necessário, segundo o filósofo, pensar a importância estratégica dos meios de comunicação, como ciência do comum, para impedir a manipulação, através da produção de conteúdos falsos. Ainda segundo ele, é preciso a construção de um projeto popular e humanista para o Brasil. Na busca de uma coletividade, que nos una e rompa os preconceitos, Cardoso utilizou como exemplo a organização das comunidades quilombolas. “Temos que nos aquilombar”, definiu.

Babilak Bah: “A gente foi distanciado da poética dos tambores”

O músico percussionista Babilak Bah analisou que uma das formas de incutir o racismo no país foi levar o povo a negar a sua própria cultura.  “A gente foi distanciado da poética dos tambores”, lamentou referindo-se à marginalização da herança africana na cultura brasileira. O samba no entanto, segundo o artista, vem mantendo o papel de resistência, retomando o seu lugar de instrumento de inclusão e de porta-voz dos excluídos.

Bah se define como um “artista do ruído”, que reconhece na ancestralidade da música africana, presente na linguagem percussiva, a capacidade de tocar e transformar as pessoas. Ele utiliza o ritmo, a musicalidade e a riqueza dessa cultura em seu trabalho como arte educador no setor de saúde mental, no projeto Trem Tan Tan. E foi cantando e tocando uma música composta por uma aluna participante deste projeto que o artista encerrou a sua fala. De acordo ele, este foi um caso de quebra de preconceitos, assim como um exemplo da música na mobilização sociopolítica da população.