Acontece no APUBH

Tema “Trabalho, Universidade e Saúde Mental” abre o ciclo de debates “Saúde nesta crise?”

O APUBH UFMG+, por meio do seu Núcleo de Acolhimento e Diálogo- NADi, iniciou nesta quarta-feira, dia 31/08, seu ciclo de debates “Saúde nesta crise?”. O tema do 1º encontro foi “Trabalho, Universidade e Saúde Mental” e contou com a participação e contribuição da professora Maria Elizabeth Antunes Lima, referência na temática proposta.  A professora abriu o ciclo de debates com o tema “Trabalho, Universidade e Saúde Mental”  e posteriormente, os demais participantes trouxeram contribuições sobre o assunto. O evento aconteceu de forma híbrida e participaram cerca de 25 pessoas.

Na abertura da atividade, a coordenadora do NADi, diretora do APUBH e professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Solange Godoy, relembrou o contexto de criação e  a finalidade do Núcleo: “Ele é um espaço realmente de escuta, de diálogo, de acolhimento e de construções coletivas de acordo com as necessidades e demandas que forem aparecendo pra gente, vindo da comunidade acadêmica, principalmente da classe de docentes”, explicou. Sobre o ciclo de debates, ela ressaltou que os temas abordados vão de encontro ao que se passa atualmente dentro do ambiente de trabalho, e por isso são muito relevantes.

Na abordagem inicial, a professora Maria Elizabeth trouxe contribuições sobre diversas pesquisas realizadas por ela e por colegas sobre a relação entre Saúde Mental e trabalho, mostrando que várias categorias profissionais sofriam com determinadas afecções psíquicas, de modo a explicitar que o contexto social e de trabalho em que vivemos tem influência direta na nossa maneira de viver, adoecer e morrer. Na pandemia, por exemplo, devido à própria exposição ao vírus, algumas categorias profissionais como profissionais da limpeza urbana, saúde, segurança pública foram mais afetadas com a incidência de COVID-19 e, da mesma maneira, a depender das condições e da organização do trabalho, certas categorias vão sofrer mais de certas afecções psíquicas comparadas a outras.

Abordar a saúde mental como um elemento intimamente atrelado aos contextos social e histórico é fundamental para a desconstrução da ideia de que os adoecimentos mentais têm como causa única ou principal características individuais. Docentes muitas vezes são impelidos a esconder e silenciar seu sofrimento, de modo a não demonstrar “fraqueza” ou “desadaptação”, no entanto, é necessário compreender os mediadores contextuais que antecedem ou que provocam um adoecimento mental.

A professora apontou, ainda, que há uma perspectiva de crescimento de adoecimentos mentais, tanto quadros leves, quanto afecções graves, com aumento de afastamento pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), sendo que toda a sociedade acaba por arcar com a produção de adoecimentos na lógica neoliberal. Com o avanço da tecnologia, as condições de trabalho tornaram-se melhores, mas o grande desafio é a compreensão dos aspectos da organização do trabalho na saúde mental de trabalhadores e trabalhadoras. As “boas condições” criam um cenário de “privilégio”, e que por vezes, está organizado de maneira nociva, hostil, com excesso de burocracias e hierarquias e tudo isso contribui negativamente para a saúde mental.

“O que determina mesmo o adoecimento mental é a maneira como o trabalho é organizado. Não é tanto a condição física, mas é a organização do trabalho. E a organização do trabalho significa o quê? Significa como o trabalho é dividido, o que cabe para cada um fazer, as linhas de comando, os estilos de gestão, de gerenciamento, os critérios de promoção, as formas de pagamento. São esses elementos que determinam mais o adoecimento mental do que as condições físicas”, explicou a professora Maria Elizabeth

A Universidade, embora pública, é atravessada pela lógica neoliberal, com a implantação desenfreada do produtivismo e da competitividade entre pares. Ela não é isenta dos contextos social, cultural e econômico nos quais se insere. Dessa maneira, o intenso incentivo ao individualismo e ao atendimento às metas e métricas avaliativas é condição constante no cotidiano docente. Esse cenário produz um contexto de alienação e de impossibilidade de criação de vínculos solidários, de confiança, de senso coletivo e, especialmente, de uma cultura de atendimento ao bem-estar social, que deve estar à frente dos interesses aparentemente pessoais em uma Universidade Pública.

A criação de espaços de resistência, questionamento, a retomada dos vínculos solidários, o entendimento da categoria docente como classe trabalhadora, a compreensão da Universidade como um espaço coletivo de produção e contribuição social é fundamental para a defesa desse, que é um bem fundamental para o desenvolvimento e autonomia do país. Além, é claro, de ser condição fundamental para promoção e preservação da saúde mental de professores e professoras, alunas, alunos, técnicos e demais trabalhadores da comunidade acadêmica.

O APUBH UFMG+ continuará debatendo essa temática e promovendo espaços de participação coletiva. Dando continuidade ao ciclo, no dia 05 de setembro, será realizada a segunda roda de conversa: “Progressão a que custo?”, com participação do professor Francisco Antunes, na Faculdade de Educação, Sala de Teleconferência – 1204, iniciando com café de recepção às 16h. Os interessados podem participar também pela plataforma Zoom. ( https://bit.ly/3pJ2PrC  / ID da reunião: 837 3223 4996 / Senha de acesso: 799275)