Um resgate ancestral do poder da presença feminina na história da África
O tema foi debatido no segundo dia da III Semana Negra do APUBH, que integra o Novembro Negro da UFMG. Assista no canal do sindicato no Youtube.
“É importante para nós, professores universitários, reconhecer que é necessário enfrentar, debater e descontruir. Não podemos permitir que mais uma geração vá ser educada sob esses moldes de pensamento racista, em que a nossa sociedade está estruturada”, definiu a professora Mariana Bracks, da Universidade Federal de Sergipe (UFS). A especialista em História da África foi a convida do terceiro dia da III Semana Negra do APUBH. O debate online teve como tema “Poderosas Rainhas Negras”, nome do livro publicado pela professora, neste ano, pela Editora Ancestre.
A conversa foi mediada pelas professoras Analise da Silva, vice-presidenta do sindicato, e Sirlene Brandão de Sousa, integrante da Diretoria Setorial de Articulações Políticas. A transmissão ao vivo foi ar, na tarde de quarta-feira (24/11), por meio do Canal do APUBH UFMG+. Assim como todas as demais atividades da Semana Negra, o vídeo continua disponível. Assista, comente e divulgue com as suas e os seus colegas: https://youtu.be/2jbSZxq0isw
A professora Analise ressaltou a relevância da obra da professora Mariana Bracs, bem como a qualidade do estudo que a originou e do modo como é apresentada. “Uma pesquisa belíssima, profunda, que fala sobre aquelas que vieram antes de nós. Esse livro é uma coisa potente, possante e maravilhosa. Tem que ser conhecido por todo mundo”, definiu a vice-presidenta do APUBH UFMG+.
O livro foi concebido a partir da pesquisa acadêmica, desenvolvida por Maria Bracks, que tentou resgatar o histórico das mulheres no continente africano. Em sua exposição inicial, a professora abordou como o poder feminino é retratado nas narrativas míticas, nas representações artísticas e em sua presença nas esferas políticas. A partir deste estudo, o livro teve a intenção de “perceber como esse poder uterino estrutura dos Estados, essas mulheres em situação de co-regência”. Assim, buscou-se explorar a importância da mulher na concepção do poder, desde as tomadas de decisão o Estado até as comunidades e unidades familiares.
A professora acredita que o estudo e divulgação da História da África podem contribuir como instrumento da luta antirracista. Ela pontuou que, através do estudo da história do continente, é possível reconhecer, no povo negro, a origem da humanidade e do desenvolvimento técnico e científico. Além disso, o estudo exemplifica a pertinência para a sociedade da pesquisa do âmbito das Ciências Humanas.
Com a divulgação do trabalho de pesquisa, a docente busca articular esse conhecimento com as pautas políticas e instigar o diálogo com a sociedade. Essa discussão se torna ainda mais necessária em tempos de ascensão do conservadorismo e do ultraliberalismo, que disseminam e aprofundam preconceitos arraigados em nossa sociedade, como o racismo, a misoginia e o machismo.
A pesquisadora acredita que este livro pode ser utilizado como recurso didático. Em sala de aula, os professores terão em mãos elementos para trabalhar essas temáticas com os estudantes, como imagens de esculturas, músicas e danças. A autora considera fundamental descontruir a visão vigente sobre a história e o povo do continente africano, que é associado, quase exclusivamente, à escravização.
A professora Sirleine Brandão reforçou a relevância do estudo produzido pela convidada, que nos possibilita “construir um outro olhar, construir uma outra relação com a África”. De acordo com ela, em que a proposição de uma nova forma de organização da formação dos professores, retirando do currículo toda a discussão a respeito da diversidade. “Nós estamos no campo de uma luta que é uma luta política, mas que é uma luta cultural também”. “Precisamos conectar essas lutas, precisamos nos organizar, para que possamos, de fato, fazer essa luta e avançar”, definiu a integrante da diretoria setorial do APUBH UFMG+.
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