Acontece no APUBH

Roda de conversa: “Vamos falar sobre o medo?”*

* NADi APUBH UFMG+

Nos últimos anos o cenário político e social no Brasil tomou ares de tensão com a construção de uma polarização política, de redes de ódio e uso de fake news como instrumento de distorção da realidade e amedrontamento. O uso do medo como estratégia de convencimento e intimidação tornou-se cada vez mais eficaz na medida em que atingiu pontos sensíveis como crenças religiosas, ameaças à própria sobrevivência e valores tradicionais conservadores. Nesse cenário de dicotomização, a criação da rivalidade, da necessidade de anulação do outro em nome “do bem comum” a ameaça passou a ser ferramenta fundamental para oprimir o contraditório.

Somando-se a esse contexto macro, as práticas de perpetuação do medo e das ameaças como ferramenta de controle e incentivo à produtividade também compõem os modelos de gestão tanto de empresas privadas como do setor público. Sob o pretexto de modernização do Estado, as instituições públicas avançam na aplicação da lógica neoliberal com o emprego de valores como o individualismo e a competitividade. Nesse contexto, pessoas trabalhadoras, incluindo-se as docentes, são colocadas em uma posição de únicas responsáveis pelo próprio sucesso, instaura-se a cultura do medo do fracasso, do pânico do não reconhecimento e do não avanço na carreira. Há uma incorporação e internalização da busca pela excelência e pelo auto desempenho.

Essa “autonomia controlada”, pela qual há “liberdade” para gerenciar a própria carreira e as atividades docentes, é atravancada pelas cobranças por produtividade, pelo controle dos órgãos de fomento externos, pelas normativas internas e pela valorização dos parâmetros quantitativos de produção em detrimento da produção de qualidade e sentidos, colocando esse sujeitos em situações contraditórias e ambivalentes. Tudo isso favorece a naturalização do viver com medo. Seja o medo de não se adaptar aos departamentos, de não conseguir aprovação dos pares, de não ter progressão de carreira, entre tantos outros.

Esse cenário agravou-se ainda mais pela crise sanitária instaurada nos últimos anos. O medo então, que a princípio é uma resposta adaptativa normal, ganhou ao longo desse período contornos sociais importantes, agravados pelo cenário sanitário, mas que não se originaram necessariamente durante a pandemia, como já colocado. Lidamos com a negligência, com o deboche, assédio, censura e com o total descaso da administração federal decorrentes de um plano político intencional e já pré-estabelecido. Adicionado a isso, por mais de dois anos a categoria docente vem sofrendo com muitas adaptações, desafios e com a necessidade de reorganização do seu calendário de atividades. Passamos por um período difícil que ainda persiste e que produziu marcas importantes na nossa saúde física, mental e emocional. Lidamos com o distanciamento, com sorrisos cobertos, ausência de contato físico e abraços, partidas súbitas e inesperadas, sem despedidas. Lidamos com o medo, o medo da contaminação, das sequelas, da morte de pessoas queridas e da nossa própria.

Sabe-se que, ao enfraquecer a capacidade de estabelecer novos parâmetros e de inovar, de lidar com o medo, podemos estar perdendo nossa saúde. Então, pensando nesse cenário complexo, o NADi propõe uma roda de conversa sobre o tema para a categoria docente e comunidade acadêmica. Venha participar conosco trazendo suas contribuições, provocações e compartilhando suas experiências. Aguardamos você.

Data: 07/12

Horário: 17h

Local: Sede APUBH UFMG+