Acontece no APUBH

Resistência, coletividade e luta marcam a abertura da III Semana Negra do APUBH

Ciclo de debates online, promovido pelo sindicato, integra a programação do Novembro Negro da UFMG – Vozes e Corpos que se Afirmam. Assista no canal do APUBH UFMG+.

 

O APUBH UFMG+ integra, em sintonia com o movimento negro, entidades representativas da comunidade acadêmica e setores institucionais da universidade, a construção coletiva da edição deste ano do Novembro Negro da UFMG. Dentro da programação oficial, que tem como tema “Vozes e Corpos que se Afirmam”, o sindicato promove a III Semana Negra do APUBH. A iniciativa é realizada com a colaboração do Centro de Convivência Negra (CCN-UFMG) e do Fórum Mineiro de EJA.

A abertura da Semana foi conduzida, na noite de segunda-feira (22/11), pela professora Analise da Silva, docente da Faculdade de Educação (FaE/UFMG) e vice-presidenta do APUBH UFMG+. “Nós negros, professores, professoras e estudantes da UFMG, queremos muito ver mais um monte de gente negra aqui dentro. Mais um monte de gente negra tendo o direito à educação superior de qualidade, pública, laica, gratuita, inclusiva, de qualidade social, antirracista”, comentou a professora.

A professora Analise ressaltou o protagonismo do povo negro nas discussões sobre o racismo estrutural e sobre os efeitos do período escravagista que, ainda hoje, deixa marcas no Brasil. Contudo ela ressaltou a necessidade de expandir essa discussão, envolvendo toda a sociedade. Afinal, como definiu a  vice-presidenta do APUBH UFMG+, “a sociedade só vai se constituir não-racista quando negros e brancos formos antirracistas”.

Assista ao registro da abertura da Semana Negra e da mesa “Educação e juventude negra LGBTIA+”, no canal do APUBH UFMG+ no Youtube: https://youtu.be/A_acIUKcUxI

“Como estamos cuidando da nossa juventude negra?”

A mesa “Educação e juventude negra LGBTIA+” abriu o ciclo de debates da edição 2021 da Semana Negra do APUBH. Para conversar sobre este tema, o sindicato recebeu Letícia Reis, historiadora em formação e fotógrafa independente. Mulher, negra, sapatão e macumbeira, como ela mesma se define, a convidada estuda gênero em História da África Pré-colonial e atua na Articulação Nacional de Negras Jovens Feministas (ANJF) e na Diretoria de Políticas de Ações Afirmativas da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE/UFMG).

A mediação do debate foi realizada pela professora Analise e pelo estudante Lucas Tiago, graduando no curso de Relações Públicas da UFMG. Em sua fala inicial, o estudante agradeceu a oportunidade de fazer parte da construção coletiva deste espaço, destacando a relevância e necessidade desse debate. “Ocupar esses espaços, que muitas vezes foram negados e que muitas vezes não foi permitido que a gente ocupasse, é muito importante para mim e para a luta antirracista, que a gente constrói dentro e fora do sindicato”, definiu Lucas Tiago.

Em sua fala, Letícia Reis abordou os desafios da construção da educação dentro da universidade, para garantir que esta seja, de fato, inclusiva. “Como estamos cuidando da nossa juventude negra?”, indagou a convidada. É preciso refletir que, ainda que a juventude consiga ter acesso à universidade, “o cenário para a juventude branca de classe média e alta é completamente diferente”. De acordo com ela, marcadores indicam que, ainda que dividam o espaço acadêmico, há diferentes fatores que incidem sobre esses jovens, no ingresso e permanência na universidade, bem como nos acessos após a formação.

 

A convidada pontuou que a lei 12.711/2012, conhecida como a Lei de Cotas, contribuiu ativamente para a mudança no perfil da universidade, aumentando a presença de estudantes afrodescendentes, de baixa renda e de origem indígena. E com o aumento do acesso à universidade, a universidade passou a enfrentar também o desafio de garantir que os estudantes teriam condições de permanecer na instituição e concluir a formação. Nesse ponto, a convidada reforçou o papel da formulação e intensificação de políticas de ações afirmativas.

A articuladora da ANJF refletiu sobre as condições a que estudantes negros, indígenas, quilombolas e com deficiência estão expostos, dentro e fora do ambiente acadêmico. Na opinião dela, a comunidade acadêmica deve questionar e tensionar as estruturas universitárias, a fim de garantir o acesso e permanência destes estudantes na universidade e, assim, contribuir para a construção de um futuro alternativo, pelo qual lutamos.

Ela propôs a reflexão sobre as formas “como nós podemos manter essas pessoas produzindo conhecimento e trazendo a criação de novas epistemologias, como uma das potencialidades maiores para a transformação e o futuro possível da universidade pública no Brasil”. E completou: “esse tensionamento precisa ser feito no olhar crítico, na leitura sensível e aprimorada, para pensar como estamos barrando pessoas, oportunidades e novas produções de conhecimento”.

 

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