Projeto de professores da UFMG é censurado pelo governo Trump
A cruzada censória conduzida pelo governo Trump, por meio de interferência e varredura nas universidades e agências de fomento à pesquisa nos Estados Unidos, fez as primeiras vítimas na UFMG. Na sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025, os professores Marco Antônio Sousa Alves e Lorena Martoni, da Faculdade de Direito, contemplados em 2024 com uma bolsa da Fulbright Specialist Program, foram informado pela Fulbright Brasil de que o seu projeto foi censurado, por conter termos que se contrapõem às diretrizes impostas pelo governo norte-americano. A bolsa seria utilizada para subsidiar a vinda de um professor da Columbia University para a Faculdade de Direito da UFMG por um período de 15 a 45 dias.
Criada em 1946 nos EUA, a Fundação Fulbright, programa de intercâmbio cultural e educacional, está no Brasil desde 1957. De acordo com a instituição, nesses 78 anos em solo brasileiro, o programa levou “4.900 brasileiros para estudar no Estados Unidos e trouxeram quase 3.400 norte-americanos para o Brasil”.
A solução apresentada para receber a bolsa é a troca ou supressão de palavras ou expressões como: direitos humanos, perseguições por gênero, classe ou raça, emancipação social, promoção da justiça social, sistemas de opressão, crise dos princípios democráticos, crise ecológica, violação de direitos humanos e civis, entre outros termos.
Curiosamente ou não, são todos termos e expressões que se contrapõem ao autoritarismo, ao negacionismo, ao protecionismo, à censura, à violência de direitos, à promoção da desigualdade social impostos por governos ultraconservadores como o de Trump. “Vejo um novo macartismo crescendo. E um regime autoritário nos EUA não é a mesma coisa que uma ditadura na Coréia do Norte, Hungria ou Venezuela, pois traz consequências muito mais nefastas (inclusive para o mundo acadêmico) e mexe com a geopolítica internacional de uma forma bem mais perigosa”, explica o professor Marco Antônio.
Desde os primeiros dias desse segundo mandato, o presidente americano tem assinado decretos com instruções sobre a forma como o governo deve tratar, por exemplo, as questões de gênero e combate ao racismo. Assim, tem se visto uma verdadeira caça às bruxas em escolas, universidades, agências de fomento à ciência e à pesquisa, por meio da cassação de projetos, banimento de livros e publicações sobre os temas censurados, entre outras medidas.
Ironicamente, sob o título de “Restaurando a Liberdade de Expressão e Encerrando a Censura Federal”, o primeiro decreto de Trump teve como objetivo reforçar o “compromisso da Casa Branca com a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos”, isto é, o do direito à liberdade de expressão. A justificativa foi de que o governo Biden havia praticado censura ao defender e implementar uma política de combate aos fake News que atingiu diretamente as big techs. Empresas essas que agora têm passe livre no governo norte-americano.
Não estaria a liberdade de expressão diretamente ligada à liberdade de pensamento? Liberdade que se manifesta, principalmente, nas universidades e instituições de pesquisa, locais, por excelência, da reflexão crítica e eticamente construída sobre as questões humanas, sociais, políticas, econômicas e as referentes à saúde, à justiça e à preservação ambiental? Ao atacar a autonomia das instituições e interferir diretamente na ciência e na pesquisa, Trump tenta emplacar nos EUA sua única e distorcida visão de mundo. Ataca-se a possibilidade de trocas de experiências e a produção de conhecimento, inclusive, para lidarmos com as grandes contradições desse mundo tão amplo e diverso. Contradições das quais, Trump desponta como o maior expoente.
Autores de pesquisa afetada pelo governo estadunidense, os professores Marco Antônio Sousa Alves e Lorena Martoni, da Faculdade de Direito, falaram sobre o caso, nesta sexta-feira (14/02), no programa DCM ao Meio-Dia. Assista.