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O impacto das atividades  burocráticas sobre o trabalho docente na universidade

O impacto das atividades  burocráticas  sobre o trabalho docente na universidade[1]

 As atividades burocráticas  têm uma função fundamental na estruturação dos procedimentos, na administração e na organização da universidade. Contudo, o que acontece quando a burocracia se torna um entrave na realização das atividades próprias à docência, impactando negativamente até mesmo  a saúde dos trabalhadores? Como a burocracia afeta o trabalho das professoras e dos professores na universidade? Quando pensamos na rotina dos  docentes na universidade, nos vem à cabeça uma série de sistemas burocráticos, por exemplo: Plataforma Sucupira, o Relatório Anual de Atividades dos Docentes (ReDoc), o Sistema de Informação da Extensão (SIEX), mais recentemente o SEI, entre tantos outros.

Essa temática foi colocada em debate pelo APUBHUFMG+, por meio do Núcleo de Acolhimento e Diálogo (NADi) junto às professoras e aos professores da UFMG, em uma roda de conversa que aconteceu no dia 04/02. O encontro online iniciou as edições, deste ano, das rodas de conversa “Tudo certo como 2 e 2 são 5”. A roda de conversa é um espaço do APUBH para que professoras e professores possam expor opiniões e compartilhar experiências, além de ser um espaço de debate político importante, no qual a categoria pode expressar-se, pautar o sindicato e fazer proposições.

Problemas relacionados à burocratização crescente na Universidade têm aparecido nos momentos de acolhimentos feitos no NADi, bem como nos debates internos sobre diversas temáticas relacionadas à organização do trabalho docente. Diante disso, antes de reunir a categoria para a roda de conversa, o NADi fez uma breve pesquisa sobre o tema com a categoria. A pesquisa intitulada “A burocracia afeta a sua rotina de trabalho na universidade?” ficou disponível para a categoria do dia 04 ao dia 24 de janeiro e contou com 90 participações.

Ao preencher o formulário da pesquisa, os(as) participantes descreviam quais os tipos de atividades burocráticas realizam cotidianamente e quanto tempo costumam dedicar a estas tarefas, assim como seus impactos sobre o bem-estar no trabalho. Além disso, o formulário reservava um espaço para relatos de experiências pessoais e profissionais sobre a burocracia na universidade.

Os dados obtidos na pesquisa foram apresentados pela psicóloga social Julie Amaral, responsável pelo acolhimento inicial dos docentes e das demandas recebidas pelo NADi/APUBH. As respostas não foram animadoras. Dentre as principais atividades burocráticas desempenhadas por docentes estão: preenchimento de inúmeros formulários nas diversas plataformas e sistemas, sendo que há repetição de dados entre eles, o que torna essa atividade ainda mais cansativa. Relatam, ainda, gestão de e-mails, gestão de bens patrimoniais, atividades administrativas, atividades de recursos humanos, atividades relativas à progressão de carreira de docentes ou mesmo de seleção e gestão de bolsas e bolsistas, atividades de avaliação de desempenho e incansáveis participações em reuniões e comissões diversas.

Em relação à frequência dedicada às atividades burocráticas, 40% dos respondentes afirmam que quase sempre realizam alguma atividade e mais de 50% afirmam que sempre realizam. Quanto      ao tempo gasto semanalmente, 65% dos participantes afirmam dedicar mais de 4 horas com atividades burocráticas.  Além disso, cerca de 90% das pessoas concordam que as atividades burocráticas impactam negativamente seu bem estar, a qualidade e o desempenho no trabalho.

Entre os principais impactos, estão o excesso de tempo dispensado, que acarreta uma sobrecarga de trabalho e extensão de jornada. As atividades burocráticas, por vezes, carregam consigo a característica da intempestividade, que acaba por interromper o fluxo de trabalho e a concentração das demais atividades, especialmente daquelas consideradas atividades fim: ensino, pesquisa e extensão. Além disso, é importante destacar ainda os reflexos sobre aspectos que vão além do laboral – como os impactos sobre as relações interpessoais na instituição, bem como, sobre o bem-estar e a própria saúde mental do professor, sendo que os sentimentos de perda de sentido e frustração são presentes nos relatos da categoria.

Todos os relatos e resultados da pesquisa corroboraram e fizeram coro aos debates na roda de conversa. O excesso de sistemas e formulários e a pouca fluidez nos processos internos traz a sensação de que “está tudo certo, mas nada resolvido!” (professor participante da roda de conversa). A burocracia em seu aspecto organizativo é necessária, instrui todas as atividades administrativas e tem o potencial positivo de manter a  memória da instituição e ordenar o fluxo dos processos, mas, na medida que em que os sistemas não se comunicam, as informações precisam ser constantemente repetidas, ela perde seu sentido, deixando de ser uma ferramenta e passando a fim em si mesma. Parece haver uma tendência crescente de transferência aos docentes de atividades administrativas antes atribuídas ao pessoal administrativo. Dessa forma, a burocratização atravanca os processos, engessa os fazeres docentes, além de tornar os processos avaliativos impessoais e inacessíveis: “A burocracia impossibilita os docentes de negociar com os critérios de avaliação” (professor participante da roda de conversa).

Diante da complexidade do assunto, os participantes concordaram ser necessário aprofundar      o debate, por meio da realização de novas rodas de conversa e outras atividades do sindicato junto à categoria. É necessário reconhecer o esgotamento atual e retirar as tarefas burocráticas desgastantes da invisibilidade. É preciso, ainda, resistir à implantação de sistemas que não atendem as necessidades de docentes, bem como, pleitear espaços de voz, coletivos e multidisciplinares, de maneira a resgatar a função “positiva da burocracia”. Dessa forma, há possibilidade de retomar seu papel de instruir e facilitar os processos cotidianos. Diante disso, convidamos a categoria a juntar-se às demais discussões promovidas pelo APUBHUFMG+ e contribuir      nesse debate tão urgente e necessário.

 

Núcleo de Acolhimento e Diálogo – NADi/APUBH

O APUBH UFMG+ está aberto à categoria para a construção e fortalecimento de saídas coletivas para as nossas lutas. O Núcleo de Acolhimento e Diálogo do APUBH (NADi/APUBH) é um espaço de escuta, diálogo, acolhimento e tomada de decisões coletivas. Com uma proposta de acolhimento realizado com base no diálogo, contribui para conectar os docentes de forma afetiva, reconhecendo seu contexto, realidade e demandas singulares. Para além dos debates coletivos, o NADi conta com uma profissional de psicologia para acolhimentos individuais.

Conheça o trabalho do NADi/APUBH, no hotsitehttps://apubh.org.br/acolhimento/.

O contato com o NADI pode ser feito do e-mail acolhimento@apubh.org.br ou do telefone/WhatsApp: 31 99949-9135.

 

[1]Texto produzido pela Equipe de Comunicação e do NADi APUBH: Solange Godoy (Coordenadora); Julie Amaral (Psicóloga Social e do Trabalho), Stella Goulart (FAFICH); Francisco Lima (Escola de Engenharia); Ricardo Souza (Faculdade de Letras) e Marcos Vinícius Bortolus (Escola de Engenharia).