Acontece no APUBH

NADi/APUBH conversou com a categoria sobre o assédio moral no contexto do trabalho docente

O tema foi colocado em discussão na terceira edição da Roda de Conversa “Tudo certo como 2 e 2 são 5”.

 

Como a estrutura institucional da universidade propicia a prática do assédio moral e de outras formas de violência no ambiente de trabalho?  O Núcleo de Acolhimento e Diálogo do APUBH colocou esse tema em debate na terceira edição da Roda de Conversa “Tudo certo como 2 e 2 são 5”, na sexta-feira passada (09/07). A conversa contou com a presença de docentes e também de técnico-administrativos, que inserem-se  na rede de escuta e acolhimento da comunidade universitária.

A iniciativa integra os esforços do sindicato através do NADI/APUBH UFMG+ de criar um espaço para que a categoria possa compartilhar e socializar seus sofrimentos. Além da escuta, essa é uma oportunidade para aprofundar a discussão sobre as suas causas e, assim, buscar formas de intervenção sobre essa realidade.

A discussão do tema foi iniciada com uma exposição de Carlos Eduardo Carrusca, professor da Faculdade de Psicologia da PUC Minas e coordenador do setor de Psicologia do Núcleo de Apoio Psicológico aos Vigilantes Vítimas de Violência no Trabalho (NAPSI). O convidado comentou como o cenário atual tem contribuído para o surgimento e agravamento do sofrimento físico e mental da população. Ele enxerga essa realidade como um reflexo da instabilidade política, econômica e social, em meio à pandemia da Covid-19, que se prolonga há mais de um ano e é agravada pela condução desastrosa do Governo Bolsonaro.

Para o professor, no caso de docentes de universidades públicas, a conjuntura atual também é sentida em forma de perseguição à categoria e ao ambiente acadêmico. Além disso, a mudança brusca nas modalidades e dinâmicas laborais, para a adequação ao Ensino Remoto Emergencial (ERE), gerou efeitos sobre a saúde dos professores. Há relatos de casos de professores com sobrecarga de trabalho, problemas físicos e emocionais, que resultam, até mesmo, na ocorrência de fadiga crônica.

O adoecimento também se origina, como explicou o convidado, nas formas de manifestação de violências no ambiente de trabalho, como é o caso do assédio moral. Carrusca observou que, no meio acadêmico, existem fatores próprios da estrutura macro que contribuem para a existência dessas práticas e até mesmo o seu incentivo. Entre os fatores, ele chamou a atenção para a competitividade, o produtivismo e a exigência de desempenho individual, sem considerar as condições para o cumprimento do trabalho. Esse último ponto, inclusive, vem se agravando na pandemia, dadas às novas condições laborais. Assim, em suas relações laborais cotidianas, as violências reproduzem a dinâmica própria do ambiente em que os trabalhadores estão inseridos. “A gente nunca vai dizer que o assédio é só moral, existe sempre uma dimensão que é institucional também. Se acontece no local de trabalho, existe a omissão, a ausência de uma intervenção efetiva e, às vezes, a conveniência de certos interesses de que aquela conduta aconteça”, explicou o professor Carlos Eduardo Carrusca.

O convidado definiu como um equívoco a compreensão de que o assédio moral se reduz a um problema de relacionamento interpessoal, entre os próprios trabalhadores. Ele pondera que, de fato, aqueles que praticam assédio não podem ser isentos da responsabilidade por suas ações. Contudo, é preciso compreender as causas das violências, que abarcam fatores do próprio ambiente de trabalho e da organização. Ele ressalta que, além de não ajudar a resolver a questão, essa redução tende a agravá-lo, uma vez que leva a culpabilizar o indivíduo, a rotular a vítima e a inviabilizar a responsabilidade da instituição.

Após a exposição inicial, os participantes tiveram espaço para compartilhar experiências e percepções sobre o tema. O APUBH UFMG+ continuará promovendo ações e debates com a categoria, voltadas ao enfrentamento do assédio moral e outros problemas enfrentados na universidade.

As denúncias e queixas também podem ser encaminhadas diretamente para o NADi/APUBH, através do e-mail acolhimento@apubh.org.br ou telefone/WhatsApp: 31 99949-9135