Acontece no APUBH

Mesas redondas e live show encerraram a II Semana Negra do APUBH

Programação homenageou o Reitor Tomaz Aroldo Gonzaga (em memória)

As mesas “Exuzilhar saberes: Informação, tecnologias e pluriepistemologias” e a live show “Na cadência do Samba” encerraram a II Semana Negra do APUBH, na sexta-feira, 06 de novembro.  Durante quatro dias, as convidadas e os convidados promoveram reflexões e debates sobre a entrada, permanência e conclusão de cursos de graduação e pós-graduação de negras e negros e “sua participação nos espaços de gestão na Educação Superior Pública”.

Exuzilhar saberes

II Semana Negra do APUBH – Mesa “Exuzilhar saberes: Informação, tecnologias e pluriepistemologias”

O tema instigante da mesa “Exuzilhar saberes: Informação, tecnologias e pluriepistemologias” foi explicado pela convidada, a professora da Escola de Ciência da Informação da UFMG, Maria Aparecida Moura. A escolha pelo título foi feita a partir de uma provocação de duas outras professoras Cidinha Silva e Leda Martins. A primeira cunhou o neologismo e a segunda falou da potência da encruzilhada. Em sua exposição Moura explicou que “Exu é o senhor da encruzilhada, é o senhor que faz a conexão na cosmovisão afrodiaspórica entre os deuses e os sujeitos do mundo da vida”, daí a proposta de trazer a expressão para a mesa. “Afinal de contas, na nossa existência como sujeitos negros na universidade é exatamente na encruzilhada que a gente tem armado as nossas revoluções e que tem permitido realizar essa transformação desde dentro da universidade”, disse.

Em sua fala, a professora abriu ainda um parêntese, como ela mesma disse, para mencionar a experiência iniciada na universidade para reconhecimento do notório saber de artistas, mestres negros e negras que construíram, com suas trajetórias, teses e dissertações que não foram consolidadas nos espaços acadêmicos. A comissão cujo trabalho resultou num decreto da UFMG para reconhecimento dos mestres de ofício, mestres da tradição, indígenas, quilombolas e afrodiaspóricos foi presidida pela professora Leda Santos, autora do termo excruzilhada. E é também por isso, que Moura trouxe esse conceito para o debate. A atuação de Santos permitiu, na visão da palestrante, tratar dos saberes transversais e estabelecer um diálogo entre os saberes e tradições populares e os saberes acadêmicos e “construir uma encruzilhada possível de construção do conhecimento”.

Cida Moura abordou ainda o papel das tecnologias de informação na consolidação das encruzilhadas dos saberes, especialmente, no atual contexto pandêmico. “Essa crise global colocou a nu a potência colonizadora das empresas de gestão e de distribuição da informação em escala planetária”, falou a professora. Ela ainda mencionou a ampliação dos ganhos econômicos e a presença cada vez mais constante de empresas como Facebook, Amazon, Apple e Google em nossas vidas. São as tecnologias da informação e comunicação que têm permitido o diálogo durante essa crise global, porém, de acordo com a professora, é necessário pensar que com o uso da tecnologia, “a gente abre mão de uma forma de saber, de uma forma de interação e, momentaneamente, a gente disponibiliza na mão dessas instituições os nossos discursos, os nossos quereres, os nossos saberes”.

“O modus operandis dessas instituições passarão a moldar e a consolidar o mundo conceitual branco via sistemas de organização do conhecimento orientados ao silenciamento de alteridades”, alertou Cida Moura.  A professora falou ainda dos dispositivos de racialidade (plataformas sociais de consumo de informação, pedir taxi ou comida etc.) que naturalizaram formas históricas de dominação.  “O racismo tem se disseminado pelas telas”, disse.

Confira a íntegra da mesa: https://youtu.be/IrptIWRJ5KU

 

Live Show “Na Cadência do Samba”

Dóris cantou clássicos do samba brasileiro.

À noite, a Live Show “Na Cadência do Samba” encerrou a II Semana Negra do APUBH. Na abertura da Live, a 1ª vice-presidenta do APUBH, professora Analise Jesus da Silva relembrou todas as atividades que compuseram a programação da Semana Negra, destacando a relevância e qualidade das conversas realizadas. Ao apresentar Dóris, ela ainda falou sobre a relevância da oficina “Cantando a História do Samba” ministrada pela cantora, na qual se trabalha cidadania e políticas de afirmação no combate ao racismo.

Ela, porém, alertou para o fato de que todos, sem exceção, devem estar atentos à necessidade de se discutir e implementar uma educação antirracista nas escolas e faculdades. “Não tem que fazer oficina com a Dóris para entender e defender a centralidade da educação para as relações étnico-raciais na construção de uma sociedade justa, digna, igualitária, inclusiva de maneira que a gente contribua para superar as desigualdades históricas. Não tem que fazer oficina com a Dóris para entender que é essencial a defesa da educação pública, gratuita, laica, democrática, popular, inclusiva, presencial, de qualidade social como o direito que estabelece o permanente combate às desigualdades e, que, portanto, se contrapõe a todas as formas de subalternização dentre elas, o racismo. Não precisa fazer oficina para saber que é do povo negro que a gente está falando”, disse.

A Live durou pouco mais de mais de 1 hora e 40 minutos e a cantora Dóris do Samba e os músicos Marcos e Carlito apresentaram um repertório com o melhor do samba brasileiro. Veja a apresentação: https://youtu.be/VGXMrZVuQdk

 

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