Acontece no APUBH

Mais uma morte anunciada: Apubh, Sindifes e DCE estão em luto

Até quando vamos assistir calados a este tipo de absurdo? Quantos negros, pais de família, mulheres, crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos ainda precisam morrer para começarmos a questionar os equívocos e abusos cometidos em prol da “manutenção da ordem e da paz”? Até quando negros, periféricos, indígenas, pobres, jovens, nordestinos, refugiados serão considerados o estereótipo dos criminosos? Aonde está a nossa justiça que protela por anos o julgamento dos grandes “criminosos” do país, mas, ao mesmo tempo, condena em tempo recorde o negro da comunidade que estava no lugar errado e na hora errada, seja lá e quando for? O que dizer da justiça seletiva que sentenciou o Lula, o Rafael Braga, os 23 ativistas do Rio das Jornadas de Junho, a Bárbara Quirino, o Igor Barcelos, o Marcelo Dias…  sem provas?

O que era um programa de família transformou-se em mais um capítulo trágico da história do país. Neste domingo, 07 de abril, Evaldo dos Santos Rosa, de 51 anos, morreu ao ser baleado em uma ação desastrosa do Exército na capital do Rio de Janeiro. Foram, ao menos, 80 tiros disparados contra o carro dirigido por Evaldo em cuja companhia estavam a esposa, o filho, o sogro e uma amiga. A primeira alegação para o tiroteio foi a de que ele era um bandido e os militares reagiram a uma agressão. Entretanto, mesmo que assim o fosse, nada justificaria 80 tiros. Já a segunda alegação foi de que o carro foi confundido com o de assaltantes. As perguntas que ficam são as seguintes: Se fosse o carro de assaltantes, isso justificaria 80 tiros? O que realmente levou os militares a atirar 80 vezes contra um veículo com uma família?  A resposta é evidente: o racismo, o preconceito social, a discriminação econômica.  Evaldo virou alvo, porque era um homem negro, pobre, dirigindo um carro caro em uma área considerada segura (a Vila Militar).  Não acreditamos que o Exército teria atirado sem nenhum alerta e tantas vezes, se o motorista fosse um sujeito branco da Zona Sul.

Estamos diante de um Estado opressor, que ataca os seus cidadãos. São “equívocos” como o de domingo que engrossam as estatísticas das mortes de inocentes que simplesmente estavam no local e hora errada, repetimos, seja lá e quando for. Evaldo é mais uma vítima da violência derivada do racismo e do preconceito de classe profundamente arraigados na sociedade.  É mais uma vítima do despreparo daqueles que deviam zelar pela nossa segurança e de um Estado agressor e punitivista que investe pouco ou nada na formação de seus policiais/militares. Será mais uma vítima da impunidade, uma vez que a lei 13.491 de 2017 garante que crimes cometidos por militares sejam investigados e julgados pela Justiça Militar. É certo que os responsáveis pela atrocidade do último domingo não serão punidos. Afinal, este foi apenas mais um “equívoco” dos tantos cometidos nos últimos 519 anos em que a legalização da prática da exclusão social e/ou física contra negros, indígenas e pobres vem sendo historicamente, orquestradamente, intencionalmente implantada na história do Brasil.

Há de se mencionar ainda, o assassinato do jovem de 19 anos em uma blitz do Exército no dia 06 de abril, na Baixada Fluminense. Outro negro, outro pobre e outra alegação de que se tratava de um bandido. O que aconteceu com o perguntar primeiro e atirar depois? Se as vítimas não estavam armadas, não ofereciam riscos, porque atirar? Aliás, porque atirar 80 vezes?  Foram mais tiros do que os disparados (75) por toda a Polícia Alemã contra civis durante o ano de 2017, de acordo com reportagem publicada pelo Jornal o Tempo.

Infelizmente, até que uma profunda mudança aconteça, não serão as únicas mortes ainda que a sociedade esteja chocada, os organismos internacionais como o Human Rights condenem a ação e cobrem providências. Ainda temos muito a fazer, se quisermos um país justo,  equânime,  humano,  disposto a reconhecer as diferenças, assumir as desigualdades como indicadores da urgência de políticas públicas e abraçar o ser humano em sua dignidade.

O APUBH, SINDIFES E DCE/UFMG nos solidarizamos com as famílias dos Evaldos e decretamos luto de três dias, pois devemos nos manter em estado permanente de indignação e resistir para que a mudança pela qual lutamos aconteça.

Orientamos que você leve esta discussão onde for. Violência nunca mais! Queremos nossos jovens negros vivos! Vidas Negras Importam! Pelo Fim do Genocídio do Povo Negro, do Povo Indígena, do povo pobre! Queremos nossos jovens negros, indígenas e pobres vivos e na Universidade!

 

APUBH, SINDIFES e DCE/UFMG