Acontece no APUBH

Homenagem ao dramaturgo João das Neves lota auditório da Reitoria da UFMG

O espetáculo “Madame Satã” , dirigido por João das Neves  e Rodrigo Jerónimo, transformou o Auditório da Reitoria numa festa, na noite desta terça-feira (27/11).    O evento foi promovido pela APUBH, com apoio da Diretoria de Ação Cultural da UFMG. Em tributo ao dramaturgo João das Neves, Madame Satã  foi encenada pelo Grupo dos Dez produzindo uma fruição estética e uma  reflexão sobre a discriminação por racismo, lgbtqfobia e misoginia.

 

Homenagem

Em seu discurso, após a peça, a professora da Faculdade de Letras e diretora de Arte e Cultura da APUBH, Sara Rojo, destacou que a motivação para a realização do espetáculo era  homenagear um dos maiores ícones da cultura brasileira no contexto do Novembro Negro:  “A possibilidade de ter vocês aqui  foi uma experiência para todos nós. A APUBH sentia, que nesse contexto,  não podíamos fazer outra coisa que convidar o grupo dos Dez e homenagear João das Neves. Ele estava em todas as lutas pela cultura, em todos os minutos” disse.

A professora finalizou sua fala agradecendo a parceria com a  Reitoria da UFMG representada, no evento, pelo professor  Rodrigo Vivas, Diretor de Ação Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais e à presença de Titane, esposa de João das Neves. Finaliza dizendo: “… por uma universidade pública, inclusiva, com cotas e com direitos, com tudo, gente!”.

Rodrigo Jerônimo, diretor do espetáculo Madame Satã fez um agradecimento especial à APUBH pelo convite para homenagear João das Neves que é considerado o  padrinho/patrono do Grupo dos Dez, juntamente com sua esposa, a cantora Titane.

A cantora mineira Titane, esposa de João das Neves, agradeceu emocionada à homenagem ao dramaturgo.   “O que mais me faz lembrar o João é quando eu vejo um ator em cena, quando vem um ator na minha frente, ali no bastidor, no saguão, ou aqui no palco. Eu olho para ele e vejo o João, porque o João foi essencialmente um homem do teatro, um homem da arte. Um homem que nunca precisou, ou melhor, não era uma característica dele se valorizar para poder  impor a arte que ele fazia. Ele era uma pessoa extremamente convicta de suas idéias, de seus ideais e levou isso até o final da vida e segue pela eternidade afora”. 

Titane ainda destacou a personalidade humanista de João das Neves: “ E ele era uma pessoa que acreditava essencialmente na humanidade. Acreditava muito no ser humano, acreditava muito nos grandes movimentos de massa, acreditava muito no indivíduo e, por isso, a arte dele sempre foi uma arte assim onde cabiam todos os indivíduos, todas as culturas, não porque ele queria fazer a defesa daquilo, mas, porque ele precisava daqueles indivíduos, daquela cultura para se entender, porque ele acreditava que o que fazia bem a ele era o que vinha de todo mundo, que vinha da diversidade, que vinha da liberdade, que vinha da alegria”.

 

Acervo João das Neves

Um vídeo exibido ao final do evento, elaborado sob a orientação dos professores Marta Eloísa Melgaço Neves, José Francisco Guelfi Campos e Verona Segantini envolvendo alunos do curso de Arquivologia,  apresentou parte do acervo de João das Neves. De acordo com a professora da Escola de Belas Artes e diretora da APUBH, Verona Segantini, em 2017, a Diretoria de Ação Cultural da UFMG intermediou a doação do arquivo João das Neves para a universidade e ele está sob a guarda da Divisão de Coleção Especiais e Obras Raras da Biblioteca Universitária e tem sido objeto de reflexão e de projetos de ensino. “O arquivo está disponível e esperamos que ele tenha ressonância na universidade e continue sua função de pensar a arte no Brasil “, disse.

“O que passou, passou. Mas pode voltar. Isso é preciso que a gente não esqueça nunca”.

(João das Neves. A Pandorga e a Lei)

 

Ao falar sobre o desejo de João das Neves doar à universidade o arquivo que contém mais de 8000 itens Titane destaca: “Eu não posso deixar de dizer aqui o quanto é importante para a cultura brasileira que esse tipo de acervo seja recuperado, seja guardado, seja principalmente disponibilizado para todos que queiram.”

 

Democratização dos saberes

Para os alunos dos cursos técnicos em Teatro, Música, Circo e Dança do Centro Interescolar de Cultura, Arte, Linguagens e Tecnologias (CICALT/PlugMinas), a apresentação gratuita e no campus da universidade abriu a possibilidade de um contato mais direto com a cultura, a universidade e com uma peça de teatro encenada integralmente por atores negros: “A gente soube dessa iniciativa da APUBH de estar trazendo o espetáculo, constituído no seu elenco por pessoas negras e isso é muito importante, uma vez que a gente vem de uma escola em que majoritariamente é formada por negros jovens e que hoje nessa situação desse espetáculo da Madame Satã. E grande parte dos alunos que vieram, veio pela primeira vez na universidade”, destacou o professor Ridalvo (Rio) do CICALT/PlugMinas.